Nascida junto com a cidade, em fins do século XVIII, a feira de Caruaru, em Pernambuco, ganhou o título de Patrimônio Imaterial do Brasil no ano de 2006, por representar bem mais que um momento de comércio de produtos, como é típico às feiras encontradas nas ruas das cidades.

A feira de Caruaru, cantada em verso e prosa por diversos artistas e em diversos ritmos e estilos musicais é quase uma entidade autônoma inerente à cidade. É difícil, quiçá impossível, desvincular a feira da cidade, pois ela não é um evento. A feira é contínua e movimenta mais que a economia local: ela é o coração do agreste pernambucano.

Por seu tamanho e diversificação, costuma-se falar das feiras existentes na Feira. Lá encontramos a tradicional venda de Frutas e Verduras, Carnes e Feijão e Farinhas, como em qualquer feira que se instala nos bairros das cidades uma vez por semana.

Mas além dessa necessária oferta de produtos para a alimentação diária, a Feira de Caruaru agrega outras feiras como a de Roupas, a de Raízes e Ervas, a de Lanches (o equivalente às atuais "praças de alimentação" dos shoppings), a feira do Ferro Velho, a da Sulanca (neologismo criado para designar os tecidos sintéticos conhecidos como helanca, vindos do sul do país), do Artesanato, que comercializa todo tipo de artefato, produzido com os mais diversos materiais como corda, tecido, metal, madeira, couro, barro, palha), dos Importados (muitos contrabandeados), do Gado, onde há a comercialização de animais de diversas espécies como cavalos, bodes, ovelhas, cabras, galinhas, patos, marrecos e outros, além do tradicional gado bovino.

Um dos segmentos mais antigos é feira de Calçados, originalmente funcionando desde os primórdios da Feira e da Cidade. Há, ainda, a feira das Flores, a das Panelas, que oferece não somente as fabricadas em inox, alumínio e outros metais, mas, também, as tradicionais panelas de barro, dos mais diversos tamanhos. Uma das extensões da Feira que teve acentuada redução de atividade foi a que comercializava Passarinhos.

A legislação severa do IBAMA, atualmente, impede a comercialização de aves silvestres, e são essas as mais desejadas pela população que tem na criação de pássaros um forte traço cultural. E para aquele que não dispõe de dinheiro na hora e precisa fazer Negócios, há a oportunidade de ir à feira do Troca-troca. Como diz o nome, é a feira onde o escambo é a tônica.

O que tiver à mão, pelo que estiver precisando.

A Feira funciona de segunda a sábado e seus dias de maior movimento variam de acordo com o segmento que esteja em maior ação. Apesar de ser "uma" feira contínua, o dia da Sulanca, por exemplo, no qual os comerciantes trazem novos produtos nas segundas-feiras, é um dos mais importante para a economia.

Não é à toa que a Feira de Caruaru foi considerada Patrimônio Imaterial de nosso país. Não é só a economia imbricada a ela, mas toda a história de uma sociedade e os passos caminhados, afinal são mais de duzentos anos que indicam como a economia e a política do país funcionaram. Não obstante não haver documentos oficiais que registrem a atividade, já que ela é uma manifestação popular, a história da Feira, que se conta através da história de Caruaru, mostra o processo de desenvolvimento de interiorização do país, de suas cidades, do intercâmbio mercantil e social, das políticas, dos conchavos, dos crimes, do dia-a-dia de todos nós.

Se não existem documentos em cartório, existem os relatos orais registrados em milhares de página dos cordéis. Onde encontrá-los? Na feira.