Na mitologia grega, os Titãs foram derrotados pelas forças do Olimpo e o Chefe dos deuses de então, Zeus, foi pai de nove filhas com a deusa da memória, Mnemósine. Para que esta guerra épica jamais fosse esquecida tanto pelos outros deuses bem como, pelos mortais, Zeus determinou que as musas (ou nove filhas) cantassem eternamente a vitória obtida ou que pudessem ser evocadas como inspiração para os músicos, e com o passar do tempo, tornaram-se arquétipos também de outras artes. Tanto no continente como nas ilhas, de norte a sul, de leste a oeste, a Grécia tem na sua composição melodias e musicalidade que refletem o ânimo e o estado de espírito de seu povo, estando associadas à cerimônias religiosas, casamentos, sepultamentos, festas diversas, etc. Imaginar uma Grécia sem Música é como se parássemos para pensar na hipótese de nunca termos ouvido o canto dos pássaros.


E para se ter música, independente de povo ou cultura, há os diversos instrumentos que produzem tamanha sonoridade. No caso da cultura grega, um dos principais instrumentos de apoio chama-se bouzouki, mas o que é exatamente um bouzouki?! Para tentar explicar melhor, vamos nos transportar para uma das cenas principais do filme "Zorba, o Grego", que embora seja uma película antiga, foi assistida por milhões de pessoas em todo mundo. Ali, Zorba (Anthony Quinn) ensina ao britânico Basil (Alan Bates) a dançar uma dança de passos ritmados e com alternância de movimentos. Escuta-se ao fundo, uma das canções folclóricas mais típicas gregas acompanhando a dança do Zorba e quais os instrumentos que dão suporte musical a todo este contexto? São justamente os bouzoukis.


É um instrumento bastante comum na música grega atual, vindo da família dos alaúdes. Da evolução da Grécia antiga para a Grécia Bizantina, surgiram os tambouras ou o que conhecemos de forma praticamente igual ao tanbur da Turquia contemporânea. Após a Guerra da Ásia Menor no século XX, travada entre gregos e turcos, esses povos fizeram o caminho inverso (aproximadamente em 1922), onde legiões de gregos que habitavam a Turquia foram para a Grécia, levando consigo o tradicionalismo da música turca que se utilizava do alaúde árabe, o qual foi substituído pelo atual bouzouki. De fato, o que ocorreu foi uma fusão de sons e instrumentos gregos e turcos, produzindo um som, quase que de um lamento hipnótico.


Há três tipos de bouzoukis: os Tricordes ou com três pares de cordas, possuíam hastes fixas e tinham 6 cordas agrupadas em três pares. Depois da 2.ª Guerra Mundial houve a fabricação dos bouzoukis Tetracordes e, por fim, nos anos sessenta, o bouzouki Irlandês. O bouzouki grego tornou-se um dos símbolos mais expoentes da música da Grécia e deste modo, pode ser ouvido em trilhas sonoras gregas de filmes; em grupos ou bandas típicas de músicas gregas ou acompanhando os sons ritmados e pungentes de danças como o Sirtaki (a dança do filme Zorba) ou o Hasapiko.

Mikis Theodorakis, Vasilis Tsitsanis, Manolis Karantinis são alguns dos nomes que representam a magnitude deste instrumento, conferindo sons e alma a cultura musical dos gregos. Por exemplo, há uma música grega famosa acompanhada da sinfonia do bouzouki que diz num dos seus versos: "Você me diz que está cansada e quer me deixar e na sua vida quer virar a página, mas estou te pedindo pra que reconsidere. Você encontraria outro lugar melhor pra passar, mas onde fores sempre pra mim vai voltar, por isso te digo, reconsidere."