No último dia 30 de novembro de 2015, completaram-se 80 anos da morte de um dos poetas mais importantes da língua portuguesa: Fernando Antônio Nogueira Pessoa. O mesmo que criou mais três extensões de sua criação literária, os seus heterônimos, Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Há registros de que Pessoa tenha produzido versos sob a assinatura de 127 heterônimos.

É verdade que dentro do universo da Literatura portuguesa as maiores referências que ajudaram nossa língua a ser o que é, está balizado no trinômio Camões, Bocage (aquele mesmo: o irônico e devasso) e Antero de Quental.

Mas é indiscutível que durante o século XX (período do Modernismo), Fernando Pessoa reina absoluto. Se os seus versos não são iguais aos escritos pelo laureado trio, pelo menos, sua criatividade simples e sua forma de escrever sem rodeios merecem permanecer no ombro dos três grandes poetas de Portugal.

Vítima de uma cirrose hepática, Fernando Pessoa teve apenas um livro publicado em sua vida, Mensagem, de 1934. Uma vida de 47 anos. Nasceu, viveu e morreu em Lisboa com um intervalo passado em sua infância na África do Sul. Foi aí que adquiriu a habilidade de escrever algumas poesias em inglês, além de fazer traduções do inglês para o português de obras de Shakespeare e Edgar Allan Poe.

Sua produção árdua e intensa não se restringia somente à literatura, como também abrangia outras áreas profissionais: astrólogo e correspondente estrangeiro de firmas comerciais.

Em 1915 (portanto, há cem anos), dirigiu a Revista “Orpheu”, marco de fundação do Modernismo em terras lusas, junto com seu amigo Mário de Sá Carneiro. Mais recentemente, revelou-se uma outra faceta de Fernando Pessoa, a de criador de slogan. Pouca gente sabe, mas ele fez esta frase para abrir as portas de Portugal à Coca-Cola : “Primeiro, estranha-se.

Depois, entranha-se”.

Apesar disso, ao longo de sua vida sofreu algumas recaídas psicológicas e de depressão. Sua vida amorosa foi instável, com idas e vindas com sua namorada, Ophelia. Não se casou. Curiosamente, gostava de freqüentar um café de nome sugestivo em Lisboa: “A Brasileira”. Neste local existe uma estátua em homenagem ao poeta/escritor sentado ao lado de uma mesa.

Seu reconhecimento começou cinco após sua morte ocorrida em 1935, quando se passou a dar mais interesse à sua obra reunida em um relicário que continha anotações, contos, críticas e traduções. Segundo especialistas, a obra de Fernando Pessoa passou despercebida em vida porque ela não tinha um conteúdo político. Suas ideias e composições não combatiam a ditadura vigente de Antônio Salazar.

SEUS HETERÔNIMOS

Interessante observar que Fernando Pessoa criou uma biografia para cada um dos três heterônimos e aqui vai um breve relato e algumas características expressivas:

ALBERTO CAEIRO

O poeta mais natural, sucinto e campestre. Não tinha educação formal e ficou órfão muito cedo. Morreu tuberculoso em 1915.

Sua característica é de uma poesia bem direta, sem alegorias. Às vezes puramente filosófica. Sem barroco e muito menos rococó.

RICARDO REIS

Nascido em 1887, é o poeta mais clássico, de influência greco-romana. Foi o defensor do conhecido “Carpe diem” – viver o presente. Emigrou para o Brasil e lá vive. Engraçado que Fernando Pessoa nunca mencionou quando Ricardo morreu. Este fato foi o gancho para que outro grande escritor português, José Saramago, escrevesse um romance no qual declara que a morte de Ricardo Reis foi em 1936.

ÁLVARO DE CAMPOS

Viveu entre 1890 e 1935 e trabalhava como engenheiro naval. O oposto de Ricardo Reis exaltava a modernidade e valores do progresso. Em seus escritos revela-se uma atitude visceral, o mais expressivo dentro da estética moderna.

Embora, em alguns trechos, encontram-se contrariedades de seus sentimentos. Nada mais moderno, não é?

Aqui vai uma lista dos poemas mais conhecidos de Fernando Pessoa e de seus companheiros de caneta: "Mar Portuguez", "Poema em Linha Reta", "O Tejo" e "Lisbon Revisited".