Independente da inclinação religiosa de cada indivíduo há um antigo provérbio dizendo que “homem domina homem para o seu prejuízo”. Se a citação for levada ao pé da letra, realmente há uma imagem funesta que povoa as cabeças de muitas pessoas ao redor do mundo, correlacionando-se ao sentido fatalista da frase. Trata-se da fotografia captada por Kevin Carter, foto-jornalista sul-africano no ano de 1993, em que um abutre e uma garotinha foram clicados em uma atmosfera de morte. A fotografia recebeu o título de “o abutre e a garotinha”, tendo sido feita na pequena vila de Ayod, no Sudão.

Tudo teve início quando Carter estava próximo de Ayod e avistou a garotinha da foto, que parou para descansar, no meio tempo em que ela estava rumando para um polo distribuidor de comida suportado pelas Nações Unidas. A partir de então, o abutre chegou ao solo próximo à menina, mas Carter tomou toda a precaução para não “contaminar” a visão da cena, esperou por aproximadamente 20 minutos até que a ave carniceira chegasse mais perto ainda da criança. Foi só aí que ele se postou no melhor ângulo e produziu uma das fotos mais fantasmagóricas e controversas fotojornalismo.

Tudo ocorre a cerca de 10 metros da garotinha, enquanto ela estava sozinha, pois os pais da mesma estavam atarefados querendo pegar mantimentos de um avião enviado pela ONU.

A foto acabou sendo negociada para o “The New York Times”, e publicada em 16 de março de 1993, onde a cena provocou uma onda de choque e comoção com centenas de pessoas querendo saber se a criança tinha conseguido sobreviver. O jornal explicou que a criança conseguiu se safar do abutre, mas não sabe depois disso o que se sucedeu a ela.

Antes, Carter não tivesse testemunhado e registrado cena tão terrível, pois o fotógrafo foi muito criticado por representantes da sociedade que o consideraram um desalmado por não ter socorrido a criança e que ele se utilizou dela para produzir a foto chocante, chegando ao ponto de inclusive ser comparado pejorativamente com o abutre da imagem.

Por outro lado, na ocasião, o que a maioria das pessoas não teve conhecimento de que os fotojornalistas estavam obrigatoriamente proibidos de manter contato físico direto com os afligidos pela fome, a fim de se evitar assim, a transmissão de doenças. Além do que, ele estava cercado por soldados fortemente armados do Sudão, os quais impediam que o fotógrafo e outros atuassem na situação de algum modo. Todavia, Carter pode confessar inúmeras vezes, posteriormente, que se arrependeu e muito de não ter ajudado a garotinha, muito embora ele não pudesse ter feito nada de prático.

No ano de 1994, o sul-africano acabou recebendo o prêmio Pulitzer pela pavorosa foto, o que só lhe rendeu novamente mais críticas severas, levando-o ao suicídio com 33 anos de idade.

Ele deixou um bilhete explicativo que, em parte, dizia o seguinte: “eu sinto muito, muito mesmo. A dor da vida supera a alegria ao ponto de que a alegria não existe… Estou deprimido… Fui me juntar ao Ken (Ken Oosterbroek, um amigo fotógrafo que havia falecido há pouco), se eu tiver tamanha sorte”.