O escritor britânico Leslie Poles Hartle escreveu em um de seus livros que o passado é um país estrangeiro, eles fazem as coisas de modo diferente lá. Embora muitos não saibam quem disse a frase, ela é muito repetida quando se trata de falar das diferenças (muitas e algumas delas chocantes) entre o passado distante e o presente.

O campo da higiene, revolucionado por descobertas como a da existência de germes e sua ação nociva sobre o organismo e o aperfeiçoamento e disseminação do fornecimento de água encanada e da rede de esgoto, entre outros, é um dos que mais sofreram mudanças.

Por exemplo, há alguns séculos, as pessoas, mesmo da realeza tomavam banho muito raramente. No final do Século XIX, Friedrich Biltz, defensor da Medicina Natural (Naturopatia), publicou um livro chamado Nova Cura Natural. Nele, conclamou seus leitores a tomar banho para preservar a saúde. Ele admitia, contudo, que muitas pessoas "desde a infância nunca entraram na água" e têm um medo infundado de se banhar. Na opinião dele, estas pessoas poderiam levar algum tempo - e alguns banhos, uns cinco ou seis, especulou - para se acostumar com a experiência. Banhos diários não eram exatamente tão comuns naquela época como são agora. Às vezes, é verdade, não havia como escapar: o banho chegou a ser prescrito por médicos como um remédio, a ser tomado quente ou frio, com ou sem sais, dependendo da enfermidade do paciente.

Com a falta de banho muitas pessoas, especialmente as pertencentes aos extratos superiores da sociedade, usavam perfumes para disfarçar o mau cheiro - e usavam-nos em todas as camadas de roupas, que, no caso dos nobres, eram muitas. Os desodorantes, só foram inventados em 1888 e os antitranspirantes, que poderiam ser de grande utilidade no ambiente de banhos reduzidos, só surgiram no começo do Século XX, em 1903.

Outra coisa que não era habitual em matéria de higiene, era o uso de papel higiênico. Surgido na China, ele só foi introduzido no Ocidente na metade do Século XIX (e, inicialmente, não era vendido em rolinhos). Antes disso, as pessoas usavam papel comum (quando ele se tornou mais disseminado - havia nessa época até quem já aproveitasse para ler no banheiro - depois de lida uma página, ela era usada para a limpeza) ou algum outro material, como lã, por exemplo.

Os cabelos são uma parte do corpo cujo tratamento certamente melhorou um bocado nos últimos séculos. O cabelo, no Século XVII, era arrumado por horas por cabeleireiros, que podiam até lançar mão de suportes para armar o cabelo. O cabelo podia ser deixado empilhado por semanas e meses e não era raro que se tornassem, a contragosto de seus donos, abrigos para insetos, como os piolhos. Na Espanha Medieval, a solução para combater caspa, seborreia e piolhos era esfregar alho nas madeixas, o que certamente não deveria ajudar com o problema do mau cheiro por falta de banho.

Por fim, antes do Século XX, a higiene íntima, no caso das mulheres, era desaconselhada porque se supunha que ela as deixava estéreis. Os tempos mudaram bastante.