Como nas histórias em que alguém atira uma garrafa ao mar na esperança de que alguém, apesar das baixíssimas probabilidades, ache a mensagem que ela contém, em um lance raro, a humanidade encontrou uma mensagem involuntária cujo ponto de envio fica não pode ser medido em quilômetros, mas em séculos. Essa mensagem tem muito a ensinar sobre a vida e costumes em uma região do planeta Terra há muito tempo atrás.

Em 1990, um corpo muito bem conservado de uma jovem inca de cerca de 15 anos foi encontrado perto do topo do vulcão Llullaillaco, que tem quase sete quilômetros de altura e fica no território do que hoje é a Argentina.

As cinzas do vulcão ajudaram proteger o corpo da jovem, que ganhou os apelidos de ”The Maiden” e "A Donzela" da decomposição.

O fato de ter sido encontrada onde foi sugere que ela foi escolhida para ser sacrificada aos deuses como um triunfo para a prosperidade e a segurança de seu povo. Acredita-se que o corpo tenha por volta de 500 anos de idade.

O exame do cabelo dele indicou que ‘’A Donzela’’ vinha de uma origem camponesa, mas tinha recebido uma dieta rica, típica da elite inca, durante os meses que precederam seu sacrifício. Segundo Andrew Wilson, arqueólogo da University of Bradford, instituição universitária britânica, e líder do estudo sobre a dieta da menina, é como se ‘’A Donzela’’ tivesse se tornado outra pessoa aos olhos de seus contemporâneas.

Seu sacrifício foi visto como uma honra, explica o especialista. Era costume que as crianças a serem sacrificadas mastigassem folhas e coca e recebessem produtos embriagantes no caminho para as montanhas onde os sacrifícios aconteciam. Depois disso, um sacerdote matava as vítimas sacrificiais, com estrangulamento e golpes na cabeça.

Interessantemente, além de aprender sobre a dieta a que "A Donzela" foi submetida quando viva, os cientistas puderam, graças ao surpreendente estado de conservação do corpo dela, descobrir que ela tinha uma infecção na época em que foi sacrificada.

O estudo da boca dela revelou algo parecido com a tuberculose. É possível que o estudo continuado do corpo não só forneça mais insights sobre a vida e a cultura incas como permita ajudar no combate às doenças causadas por bactérias.

Entre a metade do século 13 e a metade do século 14, o Império Inca expandiu-se e veio a ocupar o que hoje é o Peru e partes dos territórios que são Argentina, Chile, Bolívia, Equador e Colômbia, constituindo o maior império da América Pré-Colombiana com aproximadamente dois milhões de quilômetros quadrados.