Cada um de nós tem alguma espécie de dívida. Ninguém escapa. O problema surge quando perdemos o controle sobre nossas contas e acabamos indo em direção ao vermelho. De acordo com umapesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), foi identificado que, aproximadamente, seis em cada dez consumidores brasileiros não sabem o quanto devem. É um fato alarmante e extremamente preocupante, pois revela que a principal causa para esse verdadeiro desastre do orçamento familiar, empresarial e governamental não é a falta de informações: é a falta de planejamento.

E essa grave deficiência provoca desequilíbrios.

Os desvios começam no início da vida escolar, passando pela adolescência e chegando à vida adulta. Não há uma Educação adequada para o uso racional do dinheiro. Segundo a coordenadora institucional da Proteste, Maria Inês Dolci, "a falta de políticas públicas e privadas de educação financeira é um dos principais fatores para o endividamento do brasileiro". Esse "descontrole" provoca o desequilíbrio do orçamento familiar que ocorre quando se gasta mais do que se recebe. Daí, lança-se mão de alguma espécie de crédito para tentar "tapar" o furo existente.

Está iniciada a bola de neve. Como falta fundamentos básicos relativos à educação financeira para a maioria dos indivíduos, dificilmente eles conseguem resolver o problema do desequilíbrio orçamentário por si só.

Quando aquele empréstimo ou aquele financiamento já não são mais suficientes para saldar suas dívidas e equilibrar suas finanças, o problema só aumenta. As cobranças dos credores batem à porta e tiram o pouco de sossego que ainda resta. O devedor, já despido de confiança e credibilidade na praça, já não pode mais contar com quaisquer espécies de créditos para refinanciar seus débitos.

Chegou ao fundo do poço.

Na esfera do Governo, a falta de responsabilidade com as finanças públicas chega a ser bisonha. Não há um escopo de planejamento conjuntural que se inicie no topo da pirâmide e que sirva de modelo para as demais esferas do Governo. Apesar de termos avançado consubstancialmente a partir da criação da Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF nº 101 de 2000 - que regulamenta a atividade orçamentária das diversas esferas de Governo e proporciona maior transparência dos gastos públicos, parece que alguns entes públicos não se convenceram totalmente da eficiência, da disciplinaridade, da universalidade e da coercitividade dessa Lei.

Pelo contrário, eles atacam as margens: se alavancam com operações de crédito a partir de bancos públicos e que não sofrem baixa contábil, ou seja, dinheiro vindo do nada. Com sua "contabilidade criativa" maquiam resultados positivos, simplesmente, "jogando para frente" resultados negativos sobre previsões orçamentárias fantasiosas. São pedaladas fiscais atrevidas e superávits primários fictícios. E esses são, apenas, alguns dos exemplos mais óbvios.

Diante deste cenário, empresários e investidores vão perdendo suas confianças nas gestões públicas. Neste caso, o mau exemplo por parte do Governo também causa a perda de sua credibilidade frente aos investidores institucionais que acabam drenando seus investimentos para outros países com maior grau de confiança e credibilidade.

Aliás, credibilidade é um atributo muito difícil de se conquistar, pode levar anos para se polir. Entretanto, parece que tal atributo não é prioridade para certas gestões.

Junto disto, encontra-se a falta de planejamento. O planejamento parece estar na mesma posição da ética: "é algo tão óbvio que a maioria das pessoas e dos gestores nem se dão ao trabalho de exercê-lo" (adaptado de Kanitz, 2011). E é essa percepção desvirtuada que leva pessoas e empresas para o abismo. Sem planejamento, sem ética, sem credibilidade e sem confiança nada funciona de forma adequada. Não há progresso, não há esperança.