O relógio marca quatro e meia de uma tarde de terça-feira de céu aberto em Salvador, Alison nem reparou. O garoto, em pleno vigor dos seus 11 anos, permanece há pelo menos quatro horas com os olhos fixos no tablet que ganhou da mãe há alguns meses, desde que retornou da escola. "E esse já é o segundo dele. O primeiro ela deu quando ele tinha só 8 anos.", reclama Walter, 40 anos, o pai, recém-chegado do trabalho como segurança. A vida de Alison não é uma exceção, ele faz parte de um grupo de crianças e adolescentes conhecido como Geração Z.

A Geração Z é formada por indivíduos que nasceram a partir do ano de 1995.

Diferente das gerações anteriores, a X (nascidos do final dos anos 60 até o começo da década de 80) e a Y (nascidos de meados dos anos 80 até 1995), esta nova geração não viveu o mundo sem a internet e cresceu acompanhando todas as evoluções tecnológicas que se sucederam desde então e continuam a evoluir. "Quando eu tinha 11 anos, a idade que meu filho tem hoje, eu não saia da rua. Chegava da escola meio-dia, jogava a mochila pra cima e ia jogar bola, pegar picula, subir em pé de árvore e tudo mais. Agora fica esses meninos aí trancados dentro de casa. Não gosto disso não. Por mim ele tava era correndo por aí como eu e meus irmãos e primos fizemos", diz Walter.

Márcia, 34 anos, a mãe de Alison, ouve atentamente da cozinha o marido reclamar.

De repente, ela se aproxima e pede para falar. "Eu entendo o que o meu marido fala, mas o que ele não entende é que os tempos são outros. Cresci no interior e também tive uma infância maravilhosa. Tive muitos amigos e brinquei bastante na rua, mas agora não é como antes. A violência está aí batendo na nossa porta. Quem é doida de deixar menino solto na rua hoje em dia?

Prefiro meu filho seguro aqui em casa mesmo. Por isso dou quantos tablets ele quiser pra ficar brincando em casa", afirma a mãe.

Geração Conectada

O que os pais de Alison ainda não percebem é que não foi apenas o tempo que mudou, mas os gostos das crianças e adolescentes deste tempo. O individuo da Geração Z não sente falta da rua, pois nunca esteve nela.

Trata-se de uma geração que nasceu e está crescendo conectada, e é isso o que faz sentido para ela. Segundo Darcy Fonseca, especialista no assunto e VP Executivo e de Criação da ADAG Comunicação, as crianças e adolescentes da Geração Conectada - aquelas que passam em média de 3 a 5 horas por dia nas redes sociais - elegeram o celular como o instrumento que mais lhes representam.

"Pois é onde eles buscam relacionamentos mais convenientes à realidade deles - relacionamentos que podem ganhar com o tempo mais likes ou até mesmo serem deletados sem compromisso ou obrigatoriedade de uma satisfação ou consideração. Não pensam muito em consequências e priorizam as sensações do momento. Em grande maioria, são na realidade, deserdados de uma educação adequada ao momento, assim como de autoridade e presença dos pais.

Pois atualmente com a figura materna mais presente no mercado de trabalho, sentem-se isolados já que o pai também ausente, não pode em muito dos casos, participar mais presencialmente", explica Darcy.

Geração da Informação

Um dos pontos positivos atribuídos a Geração Z é a sua facilidade para lidar com as novas tecnologias e por ser considerada uma geração mais informada. É o que acredita o também especialista Edvaldo Acir, diretor-geral da Rocket Fuel para o Brasil e América Latina. "Vejo com bons olhos este momento para as crianças. Acredito que esta relação traga muito mais benefícios do que malefícios. Este contato profundo com a tecnologia da informação transforma as crianças em leitores e produtores de conteúdo em uma escala jamais vista antes na história humanidade. Nunca tantas crianças tiveram tamanho acesso a ferramentas de produção e distribuição de conteúdo e conhecimento", garante Edvaldo.