Na última quarta-feira (23), o canal de televisão marroquino 2M exibiu em seu programa diário Sabahiyat um tutorial ensinando mulheres que passaram por violência doméstica a esconderem as marcas das agressões. A apresentadora do programa matinal aparece mostrando calmamente como seria a maquiagem ideal para esse tipo de situação.

A mulher agredida está sentada em uma cadeira de salão no centro do palco com vários hematomas pelo rosto, enquanto a outra explica como se livrar das marcas. Ao início do programa a mulher que tocava o show disse que a intenção era de que as dicas de beleza ajudassem as mulheres violentadas a seguirem com as suas vidas cotidianas apesar dos machucados.

Absurdamente a TV exibiu as imagens apenas dois dias antes do Dia Internacional para Eliminação da Violência Contra as Mulheres.

A exibição gerou revolta em todo o mundo, e diversas mulheres se manifestaram nas redes sociais em repúdio à apresentação no mínimo vergonhosa.

Um abaixo-assinado foi elaborado por inúmeras mulheres pedindo a retratação imediata do programa absurdo. O canal chegou a retirar as imagens de circulação online, contudo ainda é possível encontrar as cenas que se espalharam pela internet e estão sendo usadas como sinal de protesto.

Como muitos canais que se aproveitam da fragilidade e vulnerabilidade das pessoas, a exibição mostrou não só falta de sensibilidade ao tratar de um tema tão delicado, mas também uma realidade alarmante: a necessidade de criar notícias sensacionalistas para ganhar audiência.

Um pedido de desculpas foi divulgado pela televisão do Marrocos no Facebook. No texto de retratação o canal justificou que o quadro foi extremamente inadequado, e que houve sim uma falta de bom senso editorial ao lidar com a gravidade de um problema como é o da violência contra as mulheres.

O Marrocos é um dos países que tem a lei mais frouxa no que diz respeito à punição da violência doméstica.

Um exemplo, é que um estuprador pode escapar da pena e da sentença de prisão, se ele se casar com a vítima sendo ela menor de idade. Para eles é inaceitável uma mulher perder a virgindade antes do casamento, e é ela que ficará manchada por toda vida, ainda que tenha sido violentada.

Muitas vezes elas são acusadas de terem consentido com o abuso, e recebem pouca ou nenhuma assistência no que diz respeito à proteção de suas vidas.