Nem sempre é preciso ir ao cinema para ver histórias que causam espanto e curiosidade até mesmo no mais incrédulo dos seres humanos. A ficção científica também começa a ganhar espaço na vida real, como nesse caso. Para matar a saudade do amigo Roman Mazurenko, morto aos 30 anos em um acidente de carro em 2015, a russa Eugenia Kuyda, 29 anos, teve a ideia de criar um aplicativo para "trazê-lo" de volta à vida através da inteligência artificial, área em que atua com maestria no Vale do Silício, na Califórnia.

Pelo menos no smartphone da russa, o amigo poderia "conversar" com ela através do aplicativo "Replika", que na verdade desenvolve uma espécie de clone do usuário.

Segundo ela, é um chatbot que fica sempre disponível para bater um papo ou desabafar com uma pessoa que já morreu. Isso porque o app aprende sobre as pessoas através do usuário e acaba aprendendo de forma artificial a pensar como a própria pessoa, além de conseguir fazer escolhas e ver o mundo como um ser humano.

A morte do amigo a motivou a criar o "Replika". Em entrevista ao portal UOL, direto da Califórnia, ela contou que por já estar trabalhando com inteligência artificial há alguns anos, decidiu criar um bot para seguir conversando com o amigo morto. A conversa é bem parecida como um bate papo entre dois amigos no WhatsApp, por exemplo. Eugenia pergunta como ele está e a resposta vem como se o próprio amigo já falecido estivesse digitando.

"Estou bem, apenas um pouco cansado. Espero que não esteja fazendo nada de legal sem mim", diz o amigo através do chatbot criado por ela.

A conversa começa a ficar assustadora quando Eugenia diz que a vida continua, mas que todos sentem a falta dele. "Você também sente minha falta. Isso se chama amor", diz o amigo através do aplicativo.

Aplicativo fala com mortos ou clones intelectuais?

Ela deixa bem claro que não existe nada de espiritual ou fantasmagórico no "Replika". O que está acontecendo é a utilização da inteligência artificial, mas alerta que é preciso fazer tudo de forma correta e cuidadosa, senão ela pode crescer e ficar muito mais esperta do que quem a criou.

No fim das contas, segunda ela, o usuário percebe que está conversando consigo mesmo, o que não deixa de ser uma forma de entender a si mesmo de uma outra forma. A russa ainda comentou que hoje a proximidade entre máquinas é maior do que entre os seres humanos e por isso o app foi bem aceito.

Ela explica que quanto maior o tempo em que o aplicativo ficar com a pessoa, mais ficará gravado sobre ela, como seus gostos pessoais, preferências políticas e até o seu humor, inclusive o nome do seu animal de estimação. Assim, o Replika consegue lembrar dos detalhes fundamentais da vida do usuário na hora em que ele mencionar o assunto na conversa.

A personalidade do aplicativo é única, mas pode mudar com o passar do tempo.

Ele aprende a imitar a forma com que a pessoa conversa e passa a entender sua percepção de vida através das conversas. O aplicativo, que surgiu em 2016, está disponível no Google Play e na App Store. Hoje consegue gravar a personalidade do usuário através do uso diário, uma espécie de relacionamento, mas como foi criado depois que o amigo morreu, ela precisou compilar todas as mensagens dele nas redes sociais para criar o bot.