Funk, favela, movimento feminista, liberdade sexual... o que esta "salada" de palavras e conceitos têm em comum? Alguns nem gostam do som, da batida, do estilo, da melodia e das letras de muitas canções e coreografias explicitamente pornográficas.

Entretanto, o funk do Brasil tem sido encarado por muitas brasileiras como uma das formas de se gritar e viver a “liberdade sexual” atualmente, principalmente quando as músicas são cantadas por elas mesmas.

A afirmação de que o funk é feminista é a princípio, no mínimo estranha, pois músicas que chamam as mulheres de “vadias”, “popozudas” "periguetes" e “cachorras”, talvez não ajudem o movimento que defende o respeito e a integridade em relação ao sexo feminino.

Todavia, é justamente a temática de cunho sexual que fornece resposta as interrogações da sociedade, pois quando se anuncia a liberdade de direito de expressão das mulheres igual a dos homens, subentende-se, por exemplo, que as mulheres também podem transar visando unicamente o prazer e assim, esse estilo musical passa a ser mais notado também por quem não frequenta os bailes funks.

A professora e pesquisadora Carla Rodrigues do departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estudiosa das teorias feministas, afirmou na última semana que “o surgimento e popularização de mulheres funkeiras em um país machista como o Brasil, traduz um processo de luta, onde o direito à liberdade sexual representa uma briga antiga e histórica das feministas.

As funkeiras quando falam que o corpo pertence a elas, alardeiam o que as feministas já reivindicavam lá na década de 1970”.

Muitas pessoas classificam o estilo musical como “degradante” e uma “pouca vergonha”, já que as letras evocam a figura da “mulher objeto” ou “submissa ao homem”. Até mesmo algumas feministas sentem desconfiança de que o funk seja, de fato, um movimento feminista e argumentam que as funkeiras não são feministas, uma vez que não se assumem como parte da luta pela igualdade de direitos.

Por outro lado, a também professora e jornalista do departamento de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Maíra Kubík diz “que por unicamente as mulheres ocuparem um espaço que era predominantemente masculino já confere poder ao movimento feminino".

Nos anos 2000, haviam as funkeiras precursoras do movimento e que se tornaram famosas, como:Deize Tigrona e Tati Quebra Barraco.

Hoje quem se destaca são cantoras como:Anitta, MC Carol Bandida e Valesca Popozuda.

O funk tem mulheres negras, gordas, loiras e de variados outros tipos físicos, que cantam clamando pelo seu prazer sexual. A elite musical do país olha depreciativamente o funk; entretanto, talvez pelo movimento ter se originado nas favelas cariocas, ainda seja um obstáculo de não ser reconhecido como uma engrenagem do avanço da revolução sexual feminina brasileira.

Preconceito e questão de gosto são inerentes a cada pessoa, mas é fato que o movimento independente de ter ou não qualidade musical, hipnotiza milhares de brasileiras que cantam os seus bordões em pancadões, considerados politicamente incorretos e pornográficos.

É tanto que a funkeira Valesca Popozuda sai em defesa do estilo ao se pronunciar dizendo: “chega de hipocrisia, as mulheres têm o direito de falar sobre sexo e muitas se calam por medo do que a sociedade vai achar". O que é ou deixa de ser uma verdade absoluta, não está em pauta, mas que o funk feminino "apavora" a imaginação das pessoas... ahhh, apavora!