O Brasil se formou da união de diferentes povos, raças e culturas. As de origem africana chegaram através da escravidão. Trouxeram com eles uma infinidade de costumes e saberes que contribuíram com o desenvolvimento de nossa sociedade. Entretanto, sabemos que tudo isso ocorreu por práticas de dominação europeia.

Ao longo da história, os mantiveram em condição de servidão. Somos marcados pela produção de profundas desigualdades e preconceitos. É preciso entender os elementos que contribuíram com a construção de nossa sociedade, das relações sociais que se fizeram ao longo do tempo.

De volta ao passado

Milhares de famílias africanas foram separadas durante o período de escravidão no Brasil. Outros povos já viviam em nosso país. Essa mistura resultou numa imensa pluralidade étnica e cultural. Ainda mantiveram suas práticas, crenças, tradições e saberes. Esse longo período foi marcado por resistências e lutas contra a escravidão. Não impediu, mais tarde, o desenvolvimento de atitudes racistas. A saber, de discriminação racial.

Somos um país preconceituoso na medida em que tratamos desigualmente pessoas de diferentes etnias. Mesmo com todas as conquistas obtidas nos últimos anos, persistimos no mito da inferioridade do negro e do índio em relação ao branco. Atualmente essa questão aparece nos discursos de muitos pessoas, charges, textos, na mídia (ataque a artistas negros que se destacam profissionalmente) e até mesmo nos livros.

Reconhecer as desigualdades

A partir da abolição da escravidão no Brasil, os afrodescendentes têm trilhado um longo caminho com o objetivo de promover maior igualdade no país, através de manifestações de reconhecimento dessas desigualdades, a valorização das diversidade e de afirmação das identidades afro-brasileiras. Reconhecendo que o racismo é um crime sujeito à prisão, dessa forma o país deu o direito de dignidade aos cidadãos negros e índios.

Recentemente, vimos na mídia o crime de racismo cometido por uma adolescente de 14 anos contra a filha adotiva de Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank. Depois que o ator fez a denúncia, a investigação conseguiu encontrar o culpado, ou seja, a garota usou o perfil de outra pessoa para cometer o crime. Onde está a educação moral que deve ser dada dentro da família numa fase importante do ser humano?

Desde as origens de nossa sociedade, fomos marcados pela discriminação racial e a exclusão dos negros. Mais do que um problema, é uma herança deixada pelos nossos antepassados. Depois que a escravidão estabeleceu-se em nosso país, instituiu-se uma ideia - que dura até os dias de hoje - de que os negros nasceram para os trabalhos braçais, sendo subalternos dos brancos civilizados.

Valorizar a contribuição das culturas

Nossa sociedade precisa dar atenção à identidade étnico-cultural e ampliar sua compreensão em todos os setores. A finalidade deste debate é construir um país que valoriza seu passado, sua cultura e realidade social, encontrando em sua diversidade a integração dos diferentes, autorespeitando e respeitando o outro, independente de características físicas ou sociais.

Um exemplo disso aconteceu no Rio de Janeiro. O Teatro Experimental do Negro foi criado em 1944 com a proposta de valorizar a cultura do negro através da educação e da arte. Seu fundador, Abdias Nascimento (1914-2011), inquietou-se com a falta de negros nos teatros brasileiros. Sua proposta era defender a verdade cultural do Brasil. Seu corpo de atores era alfabetizado, fazia aulas de teatro e interpretação e participava de palestras.

Entretanto, o TEN foi fechado por conta de dificuldades financeiras em 1961. Todavia, em seu curto período artístico, o Teatro Experimental dos Negros e o grupo Os Comediantes ajudaram a inaugurar o teatro brasileiro. Uma contribuição que provocou o surgimento de discussões que ainda permanecem: será que nós, brasileiros, sabemos valorizar a contribuição das culturas africanas para a formação do nosso povo?