Diferente do que pensa a maioria das pessoas, a mãe Natureza não é perfeita e bondosa, na verdade, é um tanto quanto cruel em certos casos. Assim sendo, no dia a dia, cada animal está sujeito à prova de diversos testes. Para que haja sobrevivência, é vitalícia a adequação às variações de temperatura e umidade, a superação da priva alimento, e talvez, principalmente, evitar sofrer predação. Assim, quem é verdadeiramente apto a sobreviver no selvagem mundo natural, precisa ter um requintado toque artístico.

As interações presa-predador formam uma das principais engrenagens que movem a máquina da evolução darwiniana.

É como uma corrida adaptativa dos dois lados. Pensando no mundo dos artrópodes, os mais representativos e criativos, predadores de topo de cadeia são as aranhas e, como em outros grupos, elas são potenciais presas para diversos organismos. Com o intuito de driblar os predadores, bem como aumentar seu sucesso de predação, as aranhas tornaram-se mestres em diversas estratégias. Dentre essas estratégias, é possível citar, entre outras especializações, o mimetismo, comportamentos crípticos e camuflagem, além de vários usos e adaptações da teia. Cada um destes comportamentos pode ser benéfico em alguns aspectos, mas prejudicial em outros, tornando-se, assim, uma faca de dois gumes.

Uma das mais notáveis adaptações da teia de algumas aranhas é uma estrutura decorativa chamada de stabilimentum.

A função desta estrutura é motivo de discussões e debates no mundo dos aracnólogos e evolucionistas. Primordialmente, se acreditava que essa estrutura tinha a função de dar estabilidade à teia, daí o seu nome. Posteriormente, outras funções foram atribuídas, como atração de presas, criando a ilusão de que a aranha é maior do que realmente é, assim afastando possíveis predadores, e auxiliar na camuflagem.

Essa estrutura pode ser feita com diversos materiais e assumir diversas formas, além de poder ser construído em diferentes locais da teia. Ao que se sabe, essa estrutura é praticamente exclusiva de um grupo de gêneros.

O comportamento de camuflagem da aranha Cyclosa ginnaga (Araneae, Araneidae) é bem singular. Indivíduos juvenis decoram o centro de suas teias fazendo nelas um ornamento espessado de seda.

Esta decoração parece atrair presas à teia, podendo possivelmente também atrair vespas predadoras, ou ocultar as aranhas dessas.

O tamanho das fezes de pássaros e as aranhas juntamente com sua decoração de seda, não apresentam diferenças significativas. Ocultou-se a decoração de seda ou a aranha e houve atração das vespas. Quando testadas, as vespas predadoras não conseguiam diferir as aranhas no stabilimentum, das fezes de pássaros, abundantes no mesmo ambiente. Como resultado, e por ironia, a aranha na decoração da teia é análoga a excrementos de pássaro. Assim mostrando-se com sagacidade, uma ótima defesa contra predadores!

É provável que o uso de estabilimentos nas teias tenha evoluído de forma independente em vários momentos da escala evolutiva. Assim tratando-se de uma convergência evolutiva, aparecendo em diversas espécies, em diversos locais e momentos, e sempre de forma semelhante, sendo uma estratégia moldada por fatores ambientais, e apesar de demandar um custo energético alto, parece ser bastante vantajosa.