Habitué da praia do Leblon, durante o verão, gosto de olhar e admirar o céu azul. Acompanho as andorinhas que passam céleres batendo suas asas em prestíssimo. Aparecem em meados de outubro ou início de novembro, de acordo com o calor, e se vão em meados de abril. Voos solos, duetos, trios e quartetos, pequenos ensembles, e grupos numerosos. Tal e qual uma grande orquestra em que seus músicos mudam de estantes e de naipes, trocando seus instrumentos.

Do latim hirundo-dinis, hirundinae, as andorinhas de chaminés, assim são chamadas em Portugal.

Aqui as conhecemos por andorinhas de bando, voltam sempre ao mesmo lugar, e, devido a um extraordinário senso de direção, ao mesmo ninho, o qual é reparado para que a fêmea possa colocar seus ovinhos. São capazes de voar 500 quilômetros por dia, alimentando-se durante o voo (são insetívoros). Fogem do frio, migrando para localidades quentes. Durante muitos séculos pensou-se que essas aves hibernavam embaixo da água ou enterradas na lama.

A formação em V, durante o voo, é explicada por uma teoria aerodinâmica: a ave à frente, ao bater suas asas, desloca o ar, e as aves atrás não precisam de muito esforço para se manterem voando. Vale dizer que seguidamente uma avezinha de trás, toma a dianteira, para que sua companheira possa descansar.

Uma lição para a humanidade: os líderes devem ser substituídos de vez em quando.

Há poucos anos, os ornitólogos do Canadá colocaram um geolocalizador no dorso de algumas aves migratórias para descobrir o itinerário de seus voos. Sabe-se hoje o roteiro de suas viagens, e que seu aparecimento nos céus, é o sinal da aproximação da primavera.

Colocam seus ovos e, por vezes, o macho ajuda a chocá-los. A fêmea não expulsa a primeira ninhada do ninho, alimentando-os por algumas semanas ainda, e os filhotes crescidos ajudam a alimentar os pequeninos quando saem dos ovos.

São socialmente monogâmicos, ficam juntos a vida toda, mas geneticamente são poligâmicos. O interessante é que essas "puladas de cerca" são vigiadas pelo macho, que, ciumento, alerta a fêmea com suas vocalizações e piados diferenciados.

Vivem 8 anos, segundo sua espécie, mas a andorinha do mar é longeva, vivendo até 20 anos, sendo que, por isso, ela é capaz de dar a volta ao mundo por 20 vezes.

No Hemisfério Norte, de onde vêm, gastam 40 dias para chegarem ao Brasil, pois fazem escala na Península de Yucatán no México. Ao regressarem em abril, voam por 15 dias. Desde a Antiguidade, essa pequenina ave é citada por escritores como Virgílio, Aristóteles e nos Salmos da Bíblia. Shaskespeare a utiliza para associá-la à esperança: "True hope is swift, and flies with swallow's wings" (A verdadeira esperança é veloz, e voa com asas de andorinhas).

As andorinhas foram assunto para várias lendas, crendices e histórias pelo mundo a fora. A atividade humana deveria ter a organização do voo das andorinhas! Olhe para os céus. É inspirador admirá-las!