O Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), formado por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto D'Or publicou, no sábado (11), em sua página oficial, uma análise sobre a notificação de casos de covid-19 no Brasil.

De acordo com a nota técnica, há um nível elevado de subnotificações, que pode dar a falsa impressão de que a doença estaria sob controle no país. Como consequência, pode haver um potencial relaxamento das medidas de distanciamento social e ações de contenção das infecções.

Os resultados preliminares do estudo conduzido pelo NOIS mostram que, no Brasil, apenas 8% dos casos de covid-19 são notificados. A estimativa é de que, até sexta-feira (10), o país teria, na verdade, mais de 235 mil pessoas infectadas pelo coronavírus –12 vezes mais do que o número oficial de 19.638 casos anunciado pelo Ministério da Saúde.

Uma das razões para a subnotificação seria o baixo número de testes que vêm sendo realizados, reservados apenas a quem apresenta quadros mais graves de saúde. O próprio ministro Luiz Henrique Mandetta reconhece a necessidade de serem feitos mais testes, mas alega que, devido à dimensão continental do Brasil, a testagem em massa não é possível de ser feita a nível nacional.

De acordo com o portal COVID-19 Brasil, idealizado por profissionais da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com pesquisadores de diversas outras instituições, o número real de infecções até quinta-feira (9) poderia ser estimado em mais de 312 mil, sendo que, na data, apenas 20.727 casos haviam sido reportados.

Os cálculos matemáticos para chegar às estimativas partem do número de óbitos, tomando como base a taxa de mortalidade apresentada na Coreia do Sul, país onde efetivamente ocorreu a testagem em massa, conferindo a seu caso números mais consolidados.

Segundo Rodrigo Gaete, doutor em enfermagem e ciências pela USP de Ribeirão Preto, o resultado obtido ainda é conservador, uma vez que a quantidade de mortes também está subnotificada.

Apesar de, conforme as estimativas, o crescimento das infecções por coronavírus estar ocorrendo de forma moderada no Brasil, em comparação a outros países, os índices triplicaram ao longo de 10 dias.

Relaxamento nas medidas de contenção

Em entrevista ao jornal O Globo, Gaete demonstra preocupação com a possibilidade de flexibilização das medidas de distanciamento social e fechamento do comércio defendida por alguns políticos, dentre eles o presidente da República, Jair Bolsonaro. A retomada da circulação de pessoas em espaços públicos pode resultar em aumento substancial do número de casos em muito pouco tempo.

Na tarde de quinta-feira, o governador do Distrito Federal (DF), Ibanez Rocha (MDB), autorizou, por meio de decreto, a reabertura de lojas de eletroeletrônicos e móveis, além de, na semana anterior, ter autorizado a reabertura de feiras. Isso fez com que um grande número de pessoas fossem às ruas, levando a diversos pontos de aglomeração pela cidade.

Com a intensa circulação de compradores, os atendentes nas lojas varejistas tocavam em aparelhos à venda para mostrá-los aos clientes e tiravam suas máscaras para conversar, comportamentos que aumentam o risco de contaminação pelo coronavírus.

Até o dia 11, o DF tinha 579 casos confirmados de covid-19 – que, de acordo com a estimativa do portal COVID-19 Brasil seria, na verdade, de 3.314 casos, um número 572% maior.