O seminário “A contribuição do veículo autônomo para a cidade inteligente” reuniu especialistas de diferentes áreas para uma conversa focada na Inovação que vai impactar diretamente a vida nas Cidades em um futuro bastante próximo: a automação de veículos e os desafios que essa transformação tecnológica demandará para os gestores urbanos, para os cidadãos, para os engenheiros, arquitetos, urbanistas, cientistas sociais, ou seja, praticamente todos aqueles que vivem no espaço urbano (e provavelmente aqueles que não moram em cidades também).
O debate aconteceu no dia 10 de agosto de 2017 na sede do Sindicado dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp) como fruto da parceria entre o Conselho Assessor de Transporte e da Mobilidade Urbana do Seesp, a União Internacional dos Transportes Públicos América Latina (UITP-AL), e o Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec).
Um dos aspectos mais desafiadores do surgimento dos veículos autônomos está no fato de que sua existência e uso em larga escala vai impactar diretamente na forma como as cidades são, ou deverão, ser organizadas e geridas. “Imagine centenas ou milhares de veículos autônomos rodando em uma cidade em que os semáforos não funcionam direito, ou em ruas excessivamente esburacadas e que, portanto não permitem uma boa sinalização digital para que o veículo faça a leitura (escaneamento) da área. Certamente muitos problemas surgiriam. Assim, como as cidades devem se preparar para receber estes veículos? Como os centros urbanos podem se tornar mais inteligentes para que este projeto se torne uma realidade?” questionou Jurandir Fernandes, coordenador do Conselho Assessor de Transporte e da Mobilidade Urbana do Seesp e presidente da UITP América Latina durante o evento.
Por conta destes aspectos e com a chegada breve dos veículos autônomos ouviremos cada vez mais falar em Smart Cities ou Cidades Inteligentes, pois uma inovação tecnológica depende de outra, e os carros irão circular em um espaço cada vez mais conectado, integrado, com maior demanda de planejamento, digitalização e presença de sensores de variados tipos, e gestão integrada a tudo isso.
Um espaço com essa complexidade passa necessariamente pela ideia de Cidade Inteligente.
Mas como atingir um grau elevado de inteligência em sistemas tão complexos quanto as cidades de grande porte? Para o diretor-geral do Isitec, Saulo Krichanã Rodrigues, será preciso repensar a própria forma de nos educarmos. “Não dá para inovar sem repensar nossos índices de Educação nacionais.
A Educação precisa ser incentivada para formar o pensamento crítico e literalmente pensar ‘fora da caixa’. O não conformismo é inerente à inovação. Se nossos gestores e nossa população se mantiverem estagnados nos níveis básicos de aprendizagem, será mais difícil inovar. É preciso ir além da superficialidade e encontrar soluções para os problemas de forma criativa, e isso está claramente colocado no desafio da automação dos veículos dentro das cidades, como componente de transformação da mobilidade urbana”, refletiu Rodrigues durante sua fala no evento.
“Top Ten Skills” e Tendências
O diretor-geral do Isitec também ressaltou uma interessante lista do World Economic Forum (WEF): as “Top 10 Skills” ou as Dez Habilidades mais importantes para os próximos anos.
Capacidade de resolver problemas complexos; Pensamento Crítico; Criatividade; Gestão de Pessoas; Capacidade de Coordenação em Equipe; Inteligência Emocional; Tomada de Decisões e Julgamentos; Orientação para Serviços; Negociação; e Flexibilidade Cognitiva são as habilidades consideradas mais importantes para o futuro próximo, mais precisamente até 2020 segundo o WEF.
Este “pano de fundo” não é simples. O palestrante e também engenheiro Valter Pieracciani, diretor da Pieracciani Consultoria ilustrou esta afirmação de forma bem humorada no início de sua apresentação: “Você está confuso? Deveria. Se não está, então você está louco”. Com a brincadeira, Pieracciani ressaltou o aspecto de velocidade e liquidez atual, permeadas pela conexão global proporcionada pela Internet.
Em poucos minutos muitas ideias circulam, mudam, geram novas soluções e novos problemas, e como fazer para acompanhar tamanha disponibilidade de informação sem ficar desorientado não é tarefa fácil. O consultor aproveitou para ressaltar 29 Tendências relevantes e que merecem nossa atenção daqui em diante. Algumas intimamente relacionadas ao advento dos carros autônomos como a Machine 2 Machine – a ampliação de conexões entre máquinas e dispositivos – como no caso dos veículos autônomos e as cidades inteligentes e seus inúmeros dispositivos (câmeras, sensores) de gestão de Tráfego, por exemplo.
Carro autônomo 100% Brasileiro
Encerrando o seminário Rogério Santana Tristão, sócio fundador e diretor comercial da Geocontrol SA, especialista em conceituação de soluções integradas para segurança pública e mobilidade urbana apresentou o carro autônomo 100% brasileiro desenvolvido em uma parceria da Geocontrol e o Laboratório de Computação de Alto Desempenho (LCAD) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
“Nosso carro autônomo é a prova de que com criatividade e força de vontade é possível desenvolver projetos de alto nível tecnológico com recursos limitados”, observou Tristão em uma referência aos milhões de dólares empregados por multinacionais de tecnologia e do setor automotivo em projetos similares hoje em franco desenvolvimento no mundo todo. “A partir dos conhecimentos adquiridos no projeto do carro autônomo brasileiro criamos um grupo de desenvolvimento em Visão Computacional e Inteligência Artificial”, acrescentou Rogério Tristão, mostrando que uma inovação literalmente leva a outra. O encontro terminou com debate entre os participantes e os temas para próximas reuniões já foram apontados, afinal de contas, a inovação não pode parar, assim como os carros autônomos.