Sarampo, varíola e paralisia infantil: nomes de enfermidades que frequentaram bastante os postos de Saúde e notícias de jornal. Até que o combate a elas por meio de campanhas e a adesão da população em se vacinar ou vacinar os seus descendentes colaborou para o sucesso da erradicação.
Etapa concluída e que beneficiou as gerações posteriores, supõe-se que a doença não exista mais e não há mais necessidade de se vacinar, certo? Não é bem assim o que anda acontecendo por aí.
O Ministério da Saúde anunciou uma campanha de prevenção (frise-se: evitar que o vírus se propague e se transforme em epidemia) à poliomielite.
O prazo final dessa campanha seria o dia 9 de setembro.
Mas, o fato é que menos da metade do público-alvo obteve a imunização necessária. Por causa disso, o Ministério da Saúde prorrogou a campanha até o fim do mês, isto é, 30 de setembro.
Os pais das crianças
A principal estratégia adotada está na sensibilização e mobilização dos pais das crianças em ir até um posto de saúde e tomar a dose. Além de combater a paralisia infantil e oferecer uma saúde física plena, a intenção é atualizar o calendário de vacinação dos que possuem menos de 15 anos de idade.
“Nós temos um grande desafio, não permitir que a poliomielite seja reintroduzida no Brasil”, disse o Ministro Marcelo Queiroga, pedindo o comparecimento dos pais em garantir a imunização contra a paralisia infantil.
Segundo ele, a meta é que a gotinha salvadora alcance 15 milhões de crianças. Logo após, ele citou que 95% do público-alvo seja vacinado; esse percentual é o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para que uma campanha seja considerada como efetiva.
Política pública integrante do Ministério da Saúde, o Programa Nacional de Imunizações abrange mais de 22 vacinas contra várias enfermidades.
Preocupação
Na prática, em torno de 6 milhões de crianças abriram a boca e ficaram imunes perante a poliomielite. Em termos de porcentagem, apenas 44% estão dentro da meta. Menos do que o dobro estipulado pela OMS.
A coisa ganha um contorno mais preocupante, uma vez que há um caso suspeito sendo tratado no estado de Roraima.
Em setembro, durante a realização da 24ª Jornada Nacional de Imunizações, efetuou-se uma pesquisa, cujo resultado mostrou que 16% dos brasileiros acreditam que não há necessidade de se vacinar as crianças quando uma doença não circula ou foi erradicada do país.
Apesar de ser um número baixo, os especialistas da saúde acham isso perigoso; é que desde 2015, o Brasil vem apresentando quedas expressivas na cobertura vacinal em geral.
Sintomas e último caso
A poliomielite é uma doença causada por um vírus. É contagiosa e atinge principalmente o público infantil. Sua transmissão pode ocorrer por contato direto com fezes ou por secreções vindas da boca de pessoas infectadas. Nos casos mais graves, há paralisia completa das pernas.
Seus primeiros sinais são parecidos com uma gripe: febre e dor; depois evolui para a perda dos estímulos nervosos e atrofia no membro atingido. É uma doença que pode atingir adultos.
Melhor prevenção até agora conhecida, a vacina é a garantia definitiva de que uma pessoa possa levar uma vida normal.
A partir de 2016, o roteiro preventivo inclui três injeções e dois ciclos (de caráter de reforço) ministrados por gotas orais.
O último caso registrado no Brasil foi em 1989, no estado da Paraíba. Preparador físico e personal trainer, Deivson Rodrigues Gonçalves relata que ficou paralítico por seis meses e, em certas ocasiões, só movia os olhos.
Hoje, ele tem uma vida normal e não apresenta qualquer sequela. Porém, alerta que é muito necessário que se vacine, justamente para evitar a volta da circulação do vírus. Ele participa de várias campanhas e debates sobre o assunto da pólio.
“Não podemos baixar a guarda...”, diz Deivson, morador da cidade de Sousa (PB). Sua frase tem sentido: o relatório divulgado, em 2021, pela OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) mostra que, devido à baixa adesão à vacinação, o Brasil é um dos oito países sul-americanos com maior propensão ao ressurgimento da paralisia infantil.
O progresso de um país não pode se restringir a nível econômico. É bom lembrar que o progresso científico é cada vez mais rápido e notável. Mas, para que esse progresso obtenha êxito total, é preciso disponibilizá-lo a fim de que as próximas gerações sejam mais fortes. De nada adianta se a outra ponta que precisa desse progresso (ou seja, a comunidade em geral) não chamar para si a responsabilidade. Se não se prevenir, a guarda ficará baixa. Assim como a saúde.