No fim dos anos 60, o século XX vivia um dos seus períodos mais emblemáticos. A guerra do Vietnã dividia opiniões acaloradas, assim como estava o mundo naqueles anos, dividido entre capitalistas e socialistas. Todo esse conflito ideológico, político e social teve reflexos significativos no campo das artes, sobretudo, na Música. O rock, o psicodelismo e a black music assumiram o som das vozes de contestadores e das experimentações sonoras inspiradas em todo aquele contexto de sonhos. O jazz, que durante muito tempo se manteve afastado do cenário mais juvenil, não resistiu à tentação das novas possibilidades rítmicas.

Nascia, com isso, o jazz fusion, e a revolução chegava de forma avassaladora ao universo da música instrumental.

O jazz fusion surgiu da fusão com o rock e ritmos da black music (soul, funk e R&B). No início foi chamado apenas por jazz-rock, sendo batizado como jazz fusion nos anos 70, período no qual viveu a fase mais seminal. Muito se discute sobre quais seriam os criadores dessa fusão, de primorosa inspiração vanguardista. Alguns críticos enxergam algo precursor em Ray Charles, que em 1959 unia instrumentos de jazz a pianos elétricos. Outros apontam para 1966, em nomes como: Larry Coryell e o grupo Free Spirit, o vibrafonista Gary Burton e o Charles Lloyd Quartet. Entretanto, foi com Miles Davies que o movimento, de fato, ganhou forma consolidada, a partir do álbum "Bitches Brew", de 1970.

Antes de "Bitches Brew", Miles Davies era associado ao estilo de jazz sofisticado e reservado para uma nata, um tanto um quanto elitista e boçal. Nada que comprometesse a genialidade de Davies, é claro, pois talento é algo que está acima de qualquer comportamento pedante. Todavia, durante os anos 60, o gênio criador do cool jazz vivia anos de conflitos com o seu trabalho, o que culminou em sua aproximação a músicos de rock, funk e soul, como Jimi Hendrix, James Brown e Sly Stone.

Davies, então, encontra o "mapa do tesouro" que buscava para sua música. Ele lança o álbum "Bitches Brew" e o jazz-rock era instaurado, definitivamente, abrindo caminho para novos músicos consolidarem as experimentações do jazz fusion.

Além de Davies, outra importante referência é Frank Zappa, que em 1969 lançou outra "bíblia" do jazz-rock: "Hot Rats".

Em seguida, outros músicos agregaram experimentações próprias ao gênero, lançando álbuns de primorosa qualidade musical e artística. Dentre os mais significativos, pode se destacar o grupo Weather Report, além de: Herbie Hancock, Chick Corea, Keith Jarrett, Billy Cobham, Pat Metheny, dentre outros. Os brasileiros mais expoentes são: Naná Vasconcelos, Airto Moreira, Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti.

Nos anos 80, o termo fusion passou a ser utilizado para uma música pop mais comercial, perdendo muito das raízes experimentais do movimento. Durante os anos 90, o gênero saiu completamente de cena, mas, dos anos 2000 pra cá, vem ressurgindo em nomes como: Herb Alpert, Lars Danielsson, The Budos Band, Mark Egan, Paul Gilbert, dentre outros.