Afinal, os brasileiros não leem porque os livros são caros ou os livros são caros porque os brasileiros não leem? Ou nenhuma das alternativas é correta? Evidente que a questão econômica influencia, mas não se torna a única variável desta equação, pois, há sim outros fatores que compensariam a ausência de uma cultura letrada no Brasil e que poderiam servir de estimulo a formação da nossa tão almejada sociedade leitora.

Tradição oral

O compositor Tom Zé conta em uma entrevista que adquiriu sua visão de mundo ouvindo as histórias dos sertanejos, que iam à loja de seu pai adquirir produtos manufaturados.

Ele reforça que muito o impressionou a sabedoria desta gente analfabeta, mas de uma inteligência rara graças a sua rica tradição oral. Quem já escutou uma "embolada" entre dois desafiantes sabe bem desta aguda inteligência.

Literatura de cordel

Possivelmente, este tipo de Literatura popular, muito apreciada no nordeste brasileiro, não seja incluída nas pesquisas sobre leitura de livros pelos brasileiros, mas ela é por demais significativa para a formação cultural de toda uma região. O cordel é feito artesanalmente e é vendido muito barato em praças e feiras do sertão. Declamado pelo cordelista (é feito em forma de versos) para os frequentadores da feira e vende como pastel feito na hora.

Teatro de mamulengo

O teatro de bonecos mamulengo, também uma tradição oral nordestina, e é outra forma encantadora de se levar cultura e Educação a todos. Em uma roda de poesia, com pessoas em situação de rua, um deles contou para os colegas e poetas presentes parte da história de um teatro de mamulengo que ele tinha assistido na Redenção, um parque muito frequentado em Porto Alegre.



Contadores de histórias

A contação de histórias é outra maneira lúdica e muito atraente de divulgar a literatura para crianças e adultos. Contadoras de história transformam temas normalmente áridos de palestras e manuais (segurança no trabalho, trânsito, saúde bucal, etc.) em divertidas histórias, utilizando esquetes ou fantoches, que são muito apreciadas pelos trabalhadores.

Aula-espetáculo

Ariano Suassuna, escritor brasileiro, também nordestino, tinha uma maneira muito divertida e infalível de estimular o gosto pela leitura através do riso com suas anedotas, ditos espirituosos e piadas, ao mesmo tempo em que falava sobre poetas e escritores brasileiros.

Com estes poucos exemplos da cultura popular, pode-se deduzir que há uma riqueza significativa à disposição para se formar uma sociedade leitora à altura dos desafios da jovem democracia brasileira, como já fizeram na década de 60 os Centro Populares de Cultura, CPCs, inspirados na 'Pedagogia do Oprimido', do saudoso educador brasileiro Paulo Freire.