Antônio Abujamra tinha um humor negro para falar do cotidiano, uma criticidade que poucos atores teriam ou terão em tempos de peitos e bundas. Iniciou sua carreira no teatro amador, onde fez muitos rirem estranhamente com seus trajes espirituosos e cheio de uma malícia que antes era uma força para chamar atenção do público aos detalhes que uma afronta aos bons costumes.
O paulistano nascido em Ourinhos, representou a primeira peça no Teatro Universitário de Porto Alegre, local em que também formou-se em filosofia e jornalismo pela Universidade Católica do Rio Grande do Sul em 1957.
Foi diretor da TV Tupi onde iniciou seus trabalhos na televisão brasileira, imprimindo os primeiros traços de seu trabalho categórico. Mas sua atuação de mérito, está com certeza impressa na história do teatro brasileiro.
Ele se apropriou de metodologias inovadoras nos palcos trazendo uma pós-modernidade única ao que se chamava teatro na época, em 1961 estreou em São Paulo no Teatro Cacilda Becker, como diretor de Ruth Escobar. No período até a década de 70 se engajou em construir peças teatrais sempre trazendo a tona remodelação do teatro brasileiro dando mais ênfase para escola humorística já na década de 80.
O papel televisivo representado por Abujamra na novela "Que Rei Sou Eu" deu ao jornalista uma visibilidade diferente da teatral e sedimentou na população sua persona extravagante, sendo comparado à aparência também inconfundível do Zé do Caixão, mas com um contexto folclórico reinventado.
A aparência gótica desse personagem foi marcante para que o elo do humor negro, o posicionamento artístico -filosófico do ator ficassem para sempre marcado em suas produções.
Desde o ano 2000 o jornalista apresentava o programa "Provocações" na TV Cultura, um programa de entrevistas diferenciado, quando observamos outros Talk Shows entendemos a singularidade do programa desenhado em "Provocações" , porque as perguntas de Abujamra tinham um caráter filosófico, além de deixar os entrevistados a vontade (coisa que outros entrevistadores não fazem), Abujamra fugia do que era fala e dito comum, procurava em cidadãos que fizeram parte da história do Brasil aquele "quê" de humanidade, juntamente com características da perfeição e beleza filosófica das coisas, com certeza as entrevistas partiam de um idealista, um homem que não pretendia aparecer no foco do programa, tanto que a luz era desfocada e o entrevistador permaneciam na penumbra.
Alguns bordões ficaram conhecidos por Abujamra, tais como: "O que é a vida?", " Me dá um abraço, que a única coisa falsa aqui é o abraço" e "Uma obra ou um destino humano?", era na televisão brasileira o único apresentador que não se seduziu pela mídia imediatista, da notícia como consumo banal, porque nos últimos tempos assistir entrevista dos Legendários ou da Marília Gabriela não fazia muita diferença, ou mesmo assistir o Gentili comparado ao Jô Soares. Mas voltando ao nosso prestimoso artista: Abujamra a vida que você criou nesses 82 anos prevalece nos corações de quem se sentiu vivo em você, muito obrigada!