Lançado pela editora Leya Brazil, que estará presente na Bienal do Livro, o livro "A Vida Louca da MPB", do jornalista Ismael Caneppele, traz, em dezessete capítulos, histórias que tiveram um fim trágico em decorrência do uso de remédios e drogas. Entre os artistas estão Carmem Miranda, Dalva de Oliveira, Vinícius de Moraes, Maysa, Tim Maia, Raul Seixas, Cazuza, Renato Russo e Cássia Eller.

Em entrevista exclusiva ao BlastingNews, o escritor conta detalhes do processo de pesquisa e curiosidades sobre a obra.

Como surgiu a ideia de escrever o livro?

Por que focar na MPB? Pensa em lançar outros com foco nos demais estilos e, principalmente, em artistas internacionais?

Surgiu a partir de um convite feito por parte da editora Leya para que eu me debruçasse sobre a vida de personagens intensos e desregrados. Tenho uma literatura ficcional voltada para os jovens e esse diálogo interessava ao livro. Gostaria sim de lançar um segundo volume com outros loucos da nossa música. São desafios instigantes.

Das histórias apresentadas por você, qual mexeu mais com o seu emocional?

Apesar de o livro ser uma serie de perfis, há momentos em que os personagens se encontram. Imagine uma narrativa que começa em Carmen Miranda até Cassia Eller, passando por Maysa, Renato Russo, Cazuza, Noel Rosa, Tim Maia, Raul Seixas...

O contato com as famílias foi tranquilo?

As minhas fontes advém de um apanhado das narrativas que a cultura pop fez sobre essas figuras. Mesmo tendo tido contato com familiares, amigos e colegas de trabalho, preferi alimentar a minha narrativa usando o olhar da cultura sobre esses artistas, quase sempre citando as fontes.

O fato de ter muitas mulheres te surpreendeu?

Eu acho é pouco. De 17 biografados, apenas 4 são mulheres. Isso é menos de um terço. Lendo você vai sacar o quanto o mercado sempre foi misógino, machista e sacana com as mulheres. Maysa, Dalva e Carmen sofreram na mão dos machos. Cássia foi a única que, obviamente, transgrediu a ordem.

Maysa e Cassia Eller eram mulheres fortes e independentes, mas Carmem Miranda e Dalva de Oliveira sofreram muito devido ao machismo:

São quatro mulheres e quatro tempos distintos.

Sinto que Carmen engoliu os homens e foi engolida por eles. Era uma máquina de fazer dinheiro. Dalva viveu um casamento, teve dois filhos, viveu a pobreza desde criança. Lavou roupa suja em público. Assim como Carmen, foi explorada por essa perigosa mistura de marido e empresário. Maysa sempre foi o risco, a intensidade, o descontrole. Autora de clássicos como “Meu mundo caiu”, talvez seja a mais atemporal das quatro. Volta e meia uma faixa sua estoura em alguma produção. Sobre Cassia, talvez o fato de ela ter sofrido febre reumática na infância tenha instaurado na menina a certeza da morte antes dos 40. Cássia, assim como Maysa, viveu um processo necrófilo talvez mais próximo da consciência.

Já Carmen não fazia ideia dos efeitos colaterais que tantos remédios para dormir e acordar poderiam causar em seu organismo. A pequena notável foi uma cobaia da incipiente indústria farmacêutica da época e se submeteu a métodos hoje ultrapassados de cirurgia estética. Maysa, por exemplo, chegou a se submeter a uma lipoescultura, tendo como método o corte da gordura, ao invés da sucção. Carmen quase morreu em decorrência de uma cirurgia plástica mal sucedida, realizada em sua casa de Beverly Hills. Chegou a filmar diversas sequências usando um nariz de cerâmica para disfarçar o estrago.

Qual o seu intuito ao lançar o livro? Contar as histórias de artistas que ajudaram a construir a MPB, ou fazer um alerta aos jovens sobre o uso excessivo de medicamentos e drogas?

O intuito sempre foi conhecer mais sobre cada um deles e deixar que a história falasse por si. Não cabe a mim e nem à arte alertar ou educar. O uso do livro cabe a cada um. Me interessou entender a potência do vício na criação e na construção de uma persona, e de como essa figura é assimilada pela cultura pop. O livro é uma pesquisa sobre mercado, criação e por aí vai...