Não é de hoje que os livros brasileiros apresentam preços absurdos. É natural que qualquer cidadão brasileiro adentre em uma livraria e se assuste com o preço indexado às capas, sejam elas nacionais ou estrangeiras. Preços que variam dos trinta e chegam até a casa dos cem, assustam possíveis consumidores do mercado das letras, e faz com que aqueles que deveriam desfrutar da literatura, prefiram investir seu dinheiro em artigos de primeira necessidade, e reneguem o aprendizado, a cultura, a um segundo plano.
É claro que a cultura é importante na vida de um sujeito.
É por meio da cultura, que se conhece o próprio país, a língua mãe. Que se educa. Mas em termos de Brasil, tudo aquilo que envolve a palavra, seja ela cantada ou escrita, acaba por se tornar privilégio de uma minoria. Daqueles que podem separar algumas notas do seu salário mensal para comprar uma obra de Machado de Assis, quem sabe, de um Graciliano Ramos. Autores que, embora nacionais, nascidos aqui e enterrados também nessas terras, são taxados com os preços mais altos nas livrarias. Talvez, com a prerrogativa de que, por serem autores cânones, devam ser hiper-valorizados, mesmo que de uma maneira questionável. Não seria a divulgação, uma maneira mais produtiva de valorizar um autor? Pois de nada adianta escritores desse quilate estarem expostos nas prateleiras de uma livraria, se são poucos os que podem levá-los para casa, os que podem conhecê-los mais de perto.
E sem trânsito cultural, não há cultura de fato.
Questionável também, um governo que diz se preocupar com a educação básica de seus cidadãos, mas que taxa a matéria prima do livro, o papel, com valores absurdos para a realidade brasileira. Editoras são empresas como qualquer outra, e para chegarem a um valor aceitável de venda, que possa resultar numa boa margem de lucro, acabam por praticar o valor de capa abusivo que chega aos estandes de venda.
E quem acaba prejudicado, no final das contas, é o leitor que ainda não surgiu, mas poderia ter nascido, caso o livro não fosse luxo, mas artigo essencial na formação do caráter de um brasileiro.
Entra-se num ciclo vicioso. Sem investimentos na área, sem isenções fiscais que busquem uma política de facilitar o acesso à cultura, as editoras preferem trabalhar com tiragens menores, ainda mais em se tratando de autores nacionais e canônicos, cuja leitura é rara, levada a cabo mais por universitários do que pelo grosso da população.
E assim, a conta não fecha. Editoras não querem ter prejuízos astronômicos, e publicando edições pequenas, acabam por encarecer o produto final: o livro. Lei básica de mercado: onde a procura é menor, maior o preço. Mas porque o livro, sobretudo o nacional, não tem procura? Ainda mais numa pátria que diz priorizar a educação. O que ocorre?
As pesquisas é que respondem. O leitor brasileiro ainda é muito seletivo. E por demais tradicional. Prefere a Bíblia, a um Guimarães Rosa. Um livro com teor religioso, a uma Clarice Lispector. Somos conhecidos como o país da Bíblia. Somos os maiores produtores de obras sacras. Enquanto isso, pouco se discute, nos círculos mais modestos, sobre literatura brasileira.
Talvez, a falha esteja na educação básica, que não consegue cativar as crianças com os nossos autores. O motivo? Didáticas ultrapassadas, dentre outras tantas possibilidades. Além da mania do professorado, de complicar aquilo que é simples. Fazer de Graciliano Ramos, obra por demais seleta, quando deveria ser cultura para qualquer um, e não para poucos. E vem a pergunta: onde está o Martin Lutero da educação? Aquele que pegará numa obra canônica brasileira e dirá: "Eis aqui o pão". Comam, pois o seu sabor pode ser desfrutado por todos, e não só por uns e outros, a nata da civilização.