Parece que há uma constante questão de mudança na linguagem de livros clássicos que, supostamente, podem ter uma linguagem que ofenda pessoas e crianças sensíveis. Dessa vez, temos mudanças no livro clássico que virou duas versões de filmes (em 1971 e 2005), "A Fantástica Fábrica de Chocolate", de Roald Dahl – falecido em 1990, aos 74 anos – porque sua obra está sendo submetida a mudanças pela editora devido a críticas de "leitores sensíveis".
A Puffin Books, selo editorial da Penguin para livros infantis, disse em uma nota discreta para a imprensa, que revisa a linguagem de todos os livros que edita o tempo todo para assegurar que possam ser desfrutados por todos atualmente. Os livros de Dahl já venderam mais de 250 milhões de cópias de suas obras ao redor do mundo.
Ainda de acordo com a curadoria e editores de Dahl, essas mudanças são para atualizar os livros para melhor atender ao político moderno. No entanto, a mudança gerou certa controvérsia e foi muito criticada por muitas pessoas, incluindo o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, cujo porta-voz afirmou que as obras de ficção devem ser preservadas e não retocadas.
Usando as próprias palavras do escritor, o porta-voz do primeiro-ministro disse que quando se trata da rica herança literária britânica, não se deve "brincar com as palavras (expressões)". No Brasil, uma situação semelhante ocorreu em 2020 com os livros infantis do autor Monteiro Lobato (1882-1948), criador do "Sítio do Picapau Amarelo". Vários termos considerados racistas foram removidos de seus livros em uma revisão conduzida pela bisneta do autor.
Reações sobre a edição
Mudanças gramaticais vem causando várias críticas ao longo dos últimos anos, dessa vez vem ganhando destaque com escritores renomados. Como no caso do escritor Salman Rushdie, que é um defensor ferrenho da liberdade de expressão e que sofreu recentemente um ataque brutal de um fundamentalista islâmico, condenou veementemente a interferência editorial da Puffin.
Segundo ele em um tuíte, embora o escritor Road Dahl não fosse nenhum santo, a “censura” imposta é completamente absurda.
Já o ator Brian Cox, que foi uma das “estrelas” na adaptação do livro no Cinema na versão de 2005, também deu sua opinião em uma entrevista à Radio Times. Ele disse que acredita que esses livros são produtos de seu tempo e deveriam permanecer como eram. O ator compara a edição “sensível” a prática de mercantilismo.
Laura Hackett, editora literária do Sunday Times, prometeu mostrar apenas as edições antigas dos livros a seus filhos, para que eles possam apreciá-los em toda a sua glória malvada e colorida no futuro.