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Pedro Cardoso e Guta Strasser

Companheiros em 'A Grande Família' os dois não escondem publicamente que até hoje não conversam. Tanto Pedro quanto Guta pouco falam sobre o assunto, mas já dispararam ofensas um contra o outro.

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Bom dia. Escrevo logo cedo para a rede antissocial levado pelo mesmo impulso de quem se olha no espelho de manhã: para me certificar de que a pessoa que acordou é a mesma que foi dormir. Antes de ser um emissor para fora, as redes antissociais são espelhos que nos devolvem a nossa imagem. Sem elas já não sabemos a nossa aparência. E pensar que os nativos daqui viveram sem um perfeito reflexo de si mesmos até a chegada do europeu. De que modo será que eles pensavam que se pareciam? “A expressão é revolucionária”, escreveu o meu mestre Amir Haddad. “Não se trata de todo artista ser operário. Mas de todo operário ser artista”, diz Amir no mesmo texto. O trabalho é, ou era, foi um dia, expressão da pessoa. Mas a industrialização radicalizou a impessoalidade do trabalho. Ainda assim, mesmo nela, a pessoa se esforça por se expressar. Lembro de ver diferença de atitude em pessoas que dentro de elevadores tinham por função parar nos andares. Uns logravam diferenciar-se mesmo naquela inexpressiva tarefa. O sucesso desses vazios virtuais aqui é oferecer esse espelho para gente se olhar enquanto falamos com os outros. Reside, portanto aqui, alguma revolução mas também uma prisão: nas redes antissociais a revolução não sai de si mesma. No entanto, pela imperfeição maravilhosa de tudo, algo dela escapa. E vou dizer quando acontece: quando no espelho nos identificamos melhor na imagem de outro do que na nossa. Assim aconteceu comigo hoje. Vi-me mais eu mesmo no que diz Emicida sobre o brasil ser uma terra de inimigos para pretos do que em tudo que eu jamais tenha dito. É nesses momentos que a revolução aprisionada escapa à vigilância do narcisismo no qual as redes antissociais se sustentam. Procuremos ouvir o grande artista Emicida. Nacionalidades e patriotismos são invenção de classes dominantes para forçar o oprimido a amar quem o oprime. Não existe brasil, tenho dito; e o assassinato de pretos tem confirmado.

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