Se houvesse uma resposta direta e objetiva para a seguinte pergunta: é bom negócio permanecer ou investir nos fundos de renda fixa? Com certeza, não existiria um consenso ou uma certeza em relação a isso.

Talvez a melhor resposta seja: depende. Existem muitos fatores a serem considerados que vão desde a inclinação a assumir riscos na hora de investir o dinheiro até os que fogem do controle daquele que busca um bom investimento.

Neste último quesito explica-se que o Covid-19 tornou-se um dos grandes responsáveis pelas quedas abissais nas Bolsas de Valores mundo afora.

As ações ou os investimentos de renda variável vêm obtendo péssimos resultados sucessivos. Como exemplo, a Bovespa registrou um índice negativo de 35,3% no espaço de um mês. Só nas duas últimas semanas, a Bolsa de São Paulo acionou o mecanismo de “circuit breaker”, necessário nos momentos em que o pregão registra forte caída dos papeis e obriga a paralisação das transações. Isso não ocorria há anos.

Fica claro para os que possuem ações negociadas o péssimo desempenho da renda variável em termos de rendimento. Essa atratividade por investir em empresas foi motivada nos últimos tempos pelos cortes consecutivos promovidos pelo Copom (Comitê de Política Monetária) na Taxa Selic. Com esta decisão, os fundos de renda fixa foram progressivamente perdendo o interesse dos clientes e muitos migraram para o mercado de ações.

Agora, conforme mencionado antes, o cenário mudou novamente.

Várias opiniões

Consultados, os especialistas em investimento oferecem mais de uma resposta sobre a pergunta que não cala dentro de cada cliente: onde é melhor investir? Aconselha-se a manter o capital na renda fixa?

Para as pessoas que não gostam ou têm aversão a assumir riscos, a opção mais vantajosa é deixar na renda fixa.

Não mexer, já que esses fundos não sofrem a variação brusca do mercado de ações. Outro ponto positivo é ficar livre das preocupações e do nervosismo em função do comportamento imprevisível das ações. Produtos como o CDB, Tesouro Direto e as Letras de Crédito Imobiliário são os mais recomendados para os que possuem perfil conservador ou moderado na hora de investir.

Se, para alguns, o que vale para a saúde (neste momento do coronavírus) também vale para os investimentos - orientados pela cautela e pela observação - para outros, o momento é partir para cima: deixar tudo como está; ou seja, apostar numa futura recuperação das rendas variáveis. Uma coisa é certa: não é hora de resgatar o dinheiro, por se entender que o prejuízo decorrente da baixa nas Bolsas não significar um bom negócio.

Um dos especialistas defendeu a possibilidade de compra de papeis, mas não de uma vez só. Segundo ele, a melhor estratégia é comprar ações aos poucos. Um dia, uma quantia; outro dia, mais um pouco. Ele destaca que, em momentos de instabilidade no mercado de capitais, vale a pena usar o dito popular de não colocar todos os ovos na mesma cesta.

Então, diversificar é o mote.

Meio termo

A professora de Finanças da USP, Liliam Carrete, oferece uma outra opinião, na qual defende o saque das ações e colocar o montante sacado na renda fixa, mesmo que isso represente um rendimento menor. Entretanto, para os que preferem ser mais arrojados ou que desejam manter o dinheiro por prazo indeterminado em renda variável, ela aconselha esperar e não tomar nenhuma decisão. Liliam introduz uma pergunta interessante nesse momento turbulento vivido na economia mundial: “quanto eu estou disposto a perder no dia de hoje?”

Pesquisando sobre cenários semelhantes aos de hoje, a professora de Finanças lembrou que, durante a crise de 1929, a Bolsa norte-americana penou por 15 anos até chegar ao patamar anterior à crise financeira.

Na recessão mundial de 2008, foram necessários quatro anos para recuperar o que se havia perdido.

Indagada sobre possibilidades para o futuro, ela afirmou a nebulosidade e a incerteza do que está à nossa frente. Uma mudança estrutural e o aumento na frequência de pandemias como a da Covid-19 não se descartam. Ela não soube dizer com precisão em quanto tempo o Ibovespa sairia do abismo, mas declarou que o mercado deverá crescer muito para repor as perdas recentes.

Ficar ou não nos fundos de renda fixa ou nas ações é uma decisão pessoal de cada um, levando-se em conta o risco a assumir e a necessidade imediata ou longínqua de se dispor de dinheiro no bolso.