Quebrar um jejum não é fácil e não é para todos. Demanda tempo, esforço e treinamento. Esse não era o primeiro foco quando a delegação do Brasil foi competir os Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, este ano. Afinal, desde 1963 que o esporte brasileiro não conseguia alçar o segundo lugar no ranking geral de medalhas.

Porém, nossos atletas e organismos que incentivam o esporte não podem mais esconder o sorriso e a satisfação de igualar o feito nos Jogos Pan-Americanos de São Paulo, naquele longínquo ano de 1963. Esse segundo lugar em Lima é motivo de orgulho e prova que o trabalho está dando certo.

É o que se pode constatar quando se checam os números do Pan 2019: conquistou-se o maior número de medalhas de ouro até então, com o total de cinquenta e cinco; e nossos competidores subiram ao pódio por 171 vezes, agregando-se ao número de ouros o somatório de 45 pratas e 71 bronzes.

Mais além, a euforia da comemoração se prolonga quando se compara o desempenho do Pan do Rio de Janeiro em 2007: naquela edição, o Brasil foi ao pódio 157 vezes. Apesar de não reconhecer uma meta clara para os atletas, o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) se regozijou ao saber que 29 vagas foram garantidas ao Brasil para competir as Olimpíadas de Tóquio em 2020. De quebra, observou um desempenho e resultados bem superiores ao Pan de Toronto em 2015.

Altos e baixos

Com duração de 19 dias, o Pan de Lima serviu para mostrar alguns favoritismos em certas modalidades e surpresas nem sempre bem-vindas para outros esportes em que o Brasil tinha ou tem certa hegemonia.

O que parecia ser fácil para o Vôlei feminino e para a prova das argolas na ginástica não se concretizou. Em compensação, obtiveram-se resultados positivos em modalidades pouco tradicionais ou conhecidas como o badminton, boxe feminino e taekwondo feminino.

Dentro do que se esperava como normal estão o domínio do handebol feminino (hexacampeão) e o levantamento de peso com Fernando Reis erguendo nada menos que 420 quilos –21 quilos a mais que o segundo colocado. Isaquias Queiroz fez seu papel na canoagem e faturou mais um ouro, assim como o judô e a natação (esta última modalidade faturou 30 medalhas no total).

Como destaque, o Brasil conseguiu 11 medalhas na ginástica artística, melhor resultado na história de Pan-Americanos. Outro feito glorioso foi a conquista do ouro no basquete feminino, superando os Estados Unidos. Desde 1991, nos Jogos de Havana, que o Brasil não ganhava o ouro no basquete.

Surpresa também ocorreu na patinação artística, onde Bruna Wurts se tornou a primeira atleta brasileira a ganhar o ouro nessa modalidade.

Inversamente proporcional

É curioso notar que a delegação brasileira era composta por menos de 500 atletas –a menor desde 2003. No entanto, além de garantir o maior número de medalhas para o esporte nacional, o Brasil se projetou mais nos esportes individuais que nos esportes coletivos, representando, de certo modo, uma quebra de paradigma.

Conforme escrito um pouco antes, as gratas surpresas vieram de modalidades inusitadas como a pelota basca, saltos ornamentais e triatlo.

Ao todo, o esporte brasileiro possui 103 vagas garantidas para disputar as Olimpíadas do ano que vem, no Japão. Vinte e nove vieram por meio do Pan de Lima. Com a finalização do evento no Peru, a distribuição dos atletas brasileiros ficou em modalidades como tênis de mesa, adestramento, pentatlo, handebol (feminino), vela, tênis (masculino), entre outros. Antes do Pan deste ano, o Brasil já havia conseguido vagas para o vôlei, natação, maratona aquática, rúgbi e Futebol feminino.

O COB evita falar em estabelecimento de metas para Tóquio, mas o fato é que se almeja à melhora do posicionamento do Brasil em Olimpíadas.

Em 2016, foram 16 pódios e as possibilidades de superação são maiores quando se pensa na inclusão do surfe e do skate como esportes olímpicos, já que o Brasil possui nomes fortes nessas duas modalidades.