O Acupe é um pequeno povoamento de descendência quilombola. A comunidade surgiu no período pós-abolicionista, do qual o território guarda fortes traços de origem do povo nagô --designação dada aos negros de língua iorubá, vendidos e escravizados na antiga Costa dos Escravos.

Segundo dados, essa era a principal origem dos escravos trazidos para trabalhar nos engenhos de cana-de-açúcar do Recôncavo baiano. No entanto, apesar da forte descendência negra, o Acupe também guarda uma herança indígena, grafada especialmente em seu nome, que significa terra quente.

Banhada pela Baía de Todos os Santos, essa é uma região belíssima e cheia de atrativos naturais, mas, diante de sua expressividade cultural, ficou mais conhecida pelas manifestações populares.

Acupe de Santo Amaro

A comunidade de Acupe dista 92 km de Salvador. Esse pequeno distrito do município de Santo Amaro da Purificação, localiza-se a 16 km do centro da cidade e possui cerca de sete mil habitantes, segundo o censo demográfico do IBGE de 2000.

A localidade descende de uma antiga área de engenhos datada do período colonial, no que emerge ao centro de três engenhos principais: Engenho São Gonçalo, Engenho Murundu e Engenho Acupe, do qual herdou o nome.

Esta é uma população de origem indígena e, especialmente, africana, sendo caracterizada como região de quilombo, ou seja, localidade onde os negros escravizados se escondiam e formavam uma comunidade.

No entanto, acredita-se que o Acupe tenha se formado após a abolição da escravatura, a partir do agrupamento dos escravos libertos, que antes trabalhavam nos engenhos do entorno da comunidade.

Sua economia é baseada na pescaria e na mariscagem, além da agricultura de subsistência e do artesanato. Com o tempo, ficou conhecida por suas manifestações culturais, protagonizadas por escravos.

Dentre estas, destaca-se o Nego Fugido.

Nego Fugido

Não há em registros uma data específica capaz de comprovar quando surgiu o esta manifestação cultural. Sabe-se apenas que está atrelada aos depoimentos e tradições orais dos moradores mais antigos da comunidade, que afirmam ter se iniciado no século XIX.

A encenação que dá origem ao Nego Fugido é realizada realiza há mais de um século e reconstitui, sob a perspectiva do negro, a história do fim da escravidão no Brasil.

Ou seja, nesta manifestação cultural, a população negra se configura como a protagonista da sua liberdade.

Deste modo, esta manifestação evoca as memórias e experiências traumáticas dos tempos de servidão, ao passo que evidencia e celebra o processo de resistência forjado pela luta da tão sonhada liberdade.

Nesse contexto, o Nego Fugido constitui uma das mais expressivas e importantes manifestações culturais baianas, atraindo centenas de turistas e fotógrafos, que se aglomeram pelas ruas do Acupe, realizadas e encenadas pelos moradores do pequeno distrito.

A manifestação ocorre anualmente, aos domingos do mês de julho, representada pela aparição do Nego Fugido, que surge correndo pelas ruas do povoado, em meio a um coletivo de outras expressões culturais quilombolas como aparições de Mandus, Bombachos, Caretas, Capoeira e Samba de Roda, recordando o protagonismo e a resistência do negro na luta pela liberdade, festejando o fim da escravidão.