O mundo das notícias é complexo, e histórias e imagens falsas costumam ser amplamente compartilhadas nas redes sociais. A equipe editorial da Blasting News identifica as informações enganosas e as fraudes mais populares toda semana para ajudá-lo a entender o que é verdade e o que é mentira. Aqui estão alguns dos boatos falsos mais compartilhados da semana.
Mundo
Reino Unido não parou de vacinar crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19
Alegação falsa: Usuários das redes sociais ao redor do mundo compartilharam a alegação de que a Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido (UKHSA, na sigla em inglês) teria interrompido a vacinação contra a Covid-19 de crianças com idades entre 5 e 11 anos. Algumas publicações afirmam que a decisão teria sido tomada após o registro de “um aumento nas mortes”, enquanto outras afirmam que as vacinas “causam problemas de desenvolvimento”.
Verdade:
- Segundo informações do Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização do Reino Unido (JCVI, na sigla em inglês), desde que a vacinação da faixa etária de 5 a 11 anos foi iniciada no país em fevereiro passado, foi estabelecido que ela incluiria apenas as crianças que completassem 5 anos de idade até o dia 31 de agosto deste ano.
- Sendo assim, conforme já havia sido planeado, as vacinas não serão mais oferecidas às crianças que completarem 5 anos de idade a partir de 1° de setembro, a menos que estejam em algum grupo de risco.
- Crianças menores de 12 anos e que completaram 5 anos antes de 1° de setembro seguem elegíveis para receber a vacina contra a Covid no Reino Unido.
- A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) recomendou pela primeira vez a vacinação contra a Covid-19 para crianças de 5 a 11 anos em 25 de novembro de 2021. Desde então, segundo dados oficiais, cerca de 55 milhões de doses foram administradas a esta faixa etária nos países da União Europeia.
Mundo
Artigo distorce estudo ao dizer que derretimento das geleiras na Groenlândia é causado por fatores naturais
Alegação falsa: Usuários das redes sociais ao redor do mundo compartilharam um artigo que afirma que um estudo recente sobre o derretimento das geleiras na Groenlândia constatou que as mudanças climáticas têm sido causadas por fatores naturais, e não pela ação humana através das emissões de carbono.
“Cientistas climáticos mostraram que o gelo da Groenlândia se recuperou desde 2012 e que a perda anterior ocorreu devido a uma ‘variação natural’ e não às emissões humanas de CO₂”, diz o artigo publicado no último dia 2 de outubro pelo site The Daily Sceptic. A publicação cita como fonte um estudo realizado em dezembro de 2021 por climatologistas japoneses na Universidade de Hokkaido e afirma que eles atribuíram o aquecimento lento na Groenlândia ao fenômeno climático natural El Niño.
Verdade:
- Em declarações à AFP, o autor principal do estudo, Shinji Matsumura, do Instituto Nacional de Pesquisa para Ciências da Terra e Resiliência a Desastres do Japão, nega o que é afirmado no artigo.
- “Nosso estudo está mal representado nesse blog. Não concordamos que [os resultados] ‘destruam’ a visão de que o CO₂ emitido pelo homem é o principal motor do aquecimento global (...) A temperatura média global do ar está aumentando devido à mudança climática antropogênica”, disse ele.
- Segundo o estudo publicado pela Universidade de Hokkaido, “a camada de gelo da Groenlândia está derretendo no longo prazo devido ao aquecimento global associado às emissões de gases de efeito estufa, mas o ritmo desse derretimento diminuiu na última década (...) Essa desaceleração foi um mistério até que nossa pesquisa mostrou que está ligada às mudanças no padrão climático do El Niño no Pacífico”.
- O estudo, no entanto, afirma que os resultados apresentados “demonstram como as mudanças naturais podem agir junto com a tendência de longo prazo do aquecimento global para variar as condições locais” e que a expectativa é de que “o aquecimento global e o derretimento da camada de gelo na Groenlândia e no resto do Ártico acelere ainda mais no futuro devido aos efeitos do aquecimento antropogênico”.
Climate Bombshell: Greenland Ice Sheet Recovers as Scientists Say Earlier Loss was Due to Natural Warming Not CO2 Emissions https://t.co/A1lQ6jq3i5
In a major challenge to climate alarmism, climate scientists have shown that Greenland ice has recovered since 2012
— Marco (@jeshua_7) October 3, 2022
EUA
Imagem não mostra tubarões em shopping na Flórida após a passagem do furacão Ian
Alegação falsa: Usuários das redes sociais no Estados Unidos compartilharam uma suposta imagem de tubarões nadando próximos às escadas rolantes de um local inundado, acompanhada da alegação de que a cena teria sido registrada em um shopping center da cidade de Fort Myers, na Flórida, após a recente passagem do furacão Ian, que deixou quase 100 pessoas mortas.
Verdade:
- Uma busca reversa na internet mostra que a imagem –sem a presença dos tubarões– foi publicada pela emissora canadense CTV News Toronto em 1 de junho de 2012.
- Segundo a reportagem, a imagem, de autoria do fotógrafo Jeff Long, mostra uma inundação na Union Station em Toronto, no Canadá, após fortes chuvas.
- Em entrevista à AFP, o usuário do Twitter Jamie King, que afirma ter manipulado a imagem original para adicionar os tubarões, disse: “Criei a imagem em 2012 como uma brincadeira em resposta às inundações incomuns no centro de Toronto, onde moro”.
Europa
Jornalista da BBC não fingiu estar em meio a fogo cruzado na Ucrânia
Alegação falsa: Usuários das redes sociais na Europa compartilharam uma imagem na qual é possível ver o jornalista britânico Jeremy Bowen, da BBC, deitado no chão, usando um colete de imprensa e capacete, enquanto ao fundo aparece uma mulher segurando uma sacola.
Segundo as publicações, a foto mostraria o jornalista fingindo estar em meio a um confronto durante uma de suas reportagens na Ucrânia.
Verdade:
- Uma busca reversa na internet mostra que a imagem faz parte de uma reportagem de Bowen publicada no site da BBC no último dia 6 de março e que documenta a fuga de civis da cidade ucraniana de Irpin, em meio a bombardeios russos.
- Na gravação, na qual é possível ouvir explosões ao fundo, Bowen relata que os moradores estão escapando de Irpin próximo “do que sobrou de uma ponte que foi explodida para atrasar os russos”.
- A mulher que aparece ao fundo na imagem compartilhada nas redes sociais –que muitas publicações afirmam estar olhando perplexa o jornalista no chão– pode ser vista na reportagem agachada atrás de um destroço enquanto disparos são ouvidos ao longe.
L'inviato in Ucraina della BBC, Jeremy Bowen, mentre finge di essere sotto attacco davanti allo sguardo perplesso di una donna con le buste della spesa 🤡🤡🤡 pic.twitter.com/xL3Jktrp1R
— Gilberto Trombetta (@Gitro77) October 5, 2022
Ásia
Imagens não mostram manifestações pró-véu no Irã em 2022
Alegação falsa: Usuários das redes sociais no Paquistão compartilharam duas fotos de grandes multidões manifestando, acompanhadas da alegação de que aquelas seriam imagens de atos pró-governo no Irã, em resposta à recente onda de protestos pelos direitos das mulheres e contra o uso obrigatório do véu que vem ocorrendo no país desde o meio de setembro.
Verdade:
- Uma busca reversa na internet mostra que ambas as imagens não foram registradas neste ano. A primeira delas, na qual um grupo de mulheres com véus pretos é visto manifestando em uma rua, foi publicada pela agência Associated Press em dezembro de 2017, durante uma manifestação pró-governo em Teerã. A segunda imagem, que mostra uma multidão próxima à Torre Azadi, famoso monumento da capital iraniana, foi publicada pela agência estatal Mehr News em 6 de janeiro de 2020, durante o funeral do comandante militar Qasem Soleimani, morto em um ataque americano em Bagdá.
- Apesar de não serem atuais, as fotos passaram a circular nas redes sociais após milhares de pessoas de fato participarem no último dia 23 de setembro de manifestações pró-governo em várias cidades iranianas.
- A onda de protestos contra o governo iraniano –com mulheres queimando seus véus, cortando os cabelos e pedindo liberdade– teve início no último dia 17 de setembro, em reação à morte de Mahsa Amini, de 22 anos, que havia sido presa pela polícia moral do Irã sob a justificativa de uso de “roupas inadequadas”.
América Latina
Cidades do Nordeste do Brasil não registraram mais votos em Lula do que total de habitantes
Alegação falsa: Usuários das redes sociais no Brasil compartilharam uma publicação que alega que dez cidades da região Nordeste do país teriam registrado no primeiro turno da eleição presidencial, ocorrido no último domingo (2), mais votos o candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do que o total de seus habitantes.
Verdade:
- Primeiramente, das dez cidades citadas na lista, três não existem: Barragem (BA), Novaçores (BA) e Nova Liberdade (BA). Já a cidade alagoana de Porto da Pedra é indicada de forma equivocada como sendo localizada em Pernambuco.
- Com relação às outras cidades da lista, que inclui dois municípios localizados na região Sul do país –Poço das Antas (RS) e Joaçaba (SC)–, uma análise dos dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que os números de votos e moradores apresentados estão incorretos.
- Em nenhum dos casos, o número de votos em Lula é maior que o de habitantes dos municípios. Em Poço das Antas (RS) e Joaçaba (SC), inclusive, o atual presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro liderou a votação.