O diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ricardo Galvão, foi exonerado do cargo na última sexta-feira (2) após uma reunião com Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia. Ao falar com os jornalistas, ele comentou sobre seu constrangimento após o presidente Jair Bolsonaro questionar os dados do Inpe. Para Galvão, as falas do presidente chegaram a surpreendê-lo e a indigná-lo.

Recentemente, o ex-diretor disse que o presidente "tem um comportamento como se estivesse falando em botequim", pois divulgou de maneira informal acusações indevidas ao mais alto escalão da ciência brasileira, ao afirmar que nenhum ministro da Ciência de governos anteriores seria capaz de diferenciar "gravidez e lei da gravidade".

Segundo Galvão, o presidente se comportou como “um garoto de 14 anos” ao fazer determinadas insinuações. Ele defendeu o órgão atestando que os dados sobre o desmatamento ocorrem há longas datas e desde que entrou no Inpe, em 1970, o órgão tem se mantido imparcial às questões políticas. Atrelado à sua imparcialidade, o Inpe tem reconhecimento internacional, pois desde 1988 colhe dados espaciais sobre a região da Amazônia, o que garante que o órgão seja respeitado mundialmente.

Motivo da exoneração de Galvão

A divulgação do Inpe no dia 19 de julho sobre o desmatamento acelerado da Amazônia, que segundo os dados cresceu 88% em junho, na comparação com o mesmo período em 2018, fez o presidente Jair Bolsonaro questionar a validade das informações e exigir responsabilidade na divulgação, pois isso poderia fragilizar um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.

Bolsonaro insinuou que Galvão estaria trabalhando para "alguma ONG" e, desde então, o cientista tem sido alvo de críticas também de outros ministros.

Constrangimento de Ricardo Galvão

Ricardo Galvão tem 71 anos de idade, é engenheiro e físico e trabalha no instituto desde 1970. Para Galvão, o presidente agiu de forma “covarde”.

O Governo continua a questionar a credibilidade do Inpe e pediu uma investigação a fim de apurar os dados com mais precisão sobre a destruição do bioma da Amazônia.

Segundo Galvão, sua permanência no Inpe é insustentável devido às duras críticas do presidente ao afirmar serem falsas as informações sobre o desmatamento da Floresta Amazônica.

Na última quinta-feira (1º) o ministro Ricardo Salles abriu um processo de licitação para contratar uma empresa com um melhor controle do sistema. Ainda não foi comunicado quem assumirá o comando do Inpe.

Marcos Pontes postou no Twitter que tem certeza que a dedicação de Ricardo Galvão deixa um grande legado para a instituição e para o país.