Futuro Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Wizard pode colocar mais uma polêmica na tão discutida estratégia do governo Jair Bolsonaro no combate ao novo coronavírus.

No caso, seria o desejo de fazer um novo protocolo para rever o número de mortos pela Covid-19 no Brasil, afirmando que os dados oficiais dos estados e municípios poderiam ser passíveis de serem 'manipulados' por estes em busca de verbas.

Wizard fala sobre mortos por Covid-19

A intenção de Wizard é de rever os dados sobre os mortos de Covid-19, que segundo números oficiais, já chegam a mais de 35 mil.

Ao jornal O Globo, o futuro secretário insinuou a existência de uma atitude por parte de governadores e prefeitos para que os números de casos e mortes pela doença sejam inflados para que estes possam conseguir recursos do governo. Em sua visão, os dados oficiais sobre mortes pelo coronavírus seriam fantasiosos.

Em outra entrevista, desta vez ao jornal O Estado de S. Paulo, o empresário voltou a falar sobre as medidas que quer colocar na administração ao combate à doença, e sobre o pedido de revisão de novos casos.

'Recontagem' de mortos

"Não vamos desenterrar mortos, e não é isso de que se trata. O que a gente pretende fazer é rever os critérios usados para ver essas mortes", disse Wizard, que justificou a existência de fraudes na contagem de mortos pela doença.

Segundo o futuro secretário do Ministério, haveria indicações, colhidas através de uma 'equipe de inteligência', de casos de fraudes nos dados visando obtenção de recursos públicos para suas campanhas contra o coronavírus. As tais infrações já seriam de ciência de Eduardo Pazuello, ministro titular da pasta.

Apesar de a intenção de rever o número de mortes por coronavírus, Carlos Wizard afirmou que tal medida não irá representar mudança no modo como o governo está contabilizando os casos de Covid-19.

"Não estamos preocupados com o passado, mas sim com o futuro. O passado já foi e o número não vai cair", declarou.

Conselho critica decisão de Wizard

A decisão de rever o número de mortos pelo coronavírus despertou críticas. Alberto Beltrame, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), se posicionou duramente contra tal medida a ser imposta pelo futuro secretário da pasta.

De acordo com Beltrame, Wizard quer dar invisibilidade aos mortos pelo coronavírus, dizendo que as acusações de que estados e municípios estariam fraudando números e inflando as estatísticas seriam "acusações levianas" do empresário.

"Não prosperará. Nós e a sociedade brasileira não os esqueceremos e tampouco a tragédia que se abate sobre a nação”, criticou o presidente da Conass em nota publicada no Estadão.

Na nota, Beltrame afirma que o sentido que Wizard dá faz com que os secretários de saúde estaduais e municipais sejam vistos como "mercadores da morte" pelo governo. E que as insinuações sobre fraudes seriam fruto de "ignorância" e que isto seria uma ofensa aos mortos pelo coronavírus e seus familiares.

"Wizard menospreza a inteligência de todos os brasileiros, que num momento de tanto sofrimento e dor, veem seus entes queridos mortos tratados como "mercadoria". Sua declaração grosseira e falaciosa, desprovida de qualquer senso ético, de humanidade e de respeito, merece nosso profundo desprezo, repúdio e asco", completa a nota da Conass.