Os próximos dias deverão ser decisivos para um dos principais projetos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que tem grande repercussão na política do Brasil. A alteração nas urnas eletrônicas, que iria passar a imprimir os votos computados em papel. Esses comprovantes em papel iriam então ser colocados em uma urna à parte.
A PEC do voto impresso poderá ser aprovada na Câmara de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados – que irá avaliar a constitucionalidade da matéria. Entretanto, acredita-se que o presidente Bolsonaro perdeu a disputa para a implementação do voto impresso como é a sua vontade.
Trata-se de uma derrota política, pois nada menos que onze partidos – incluindo até mesmo legendas partidárias do centrão, o bloco de partidos da base de apoio do Governo Bolsonaro – já avisaram que não iriam aprovar a PEC se ela fosse para votação na Câmara dos Deputados e no Senado. Sendo assim, os bolsonaristas não iriam ter os 308 votos que são necessários, e a questão nem mesmo deverá chegar aos plenários do Congresso.
A se confirmar a derrota de Bolsonaro, o Brasil permanecerá com a urna eletrônica funcionando da mesma maneira como tem funcionado nas últimas disputas eleitorais. A BBC News Brasil conversou com o professor e cientista político do Insper, em São Paulo, Carlos Melo, que disse que mesmo derrotado nessa batalha política, o presidente continuará com sua estratégia de tentar deslegitimar a eleição do próximo ano em caso de derrota nas urnas.
Segundo o especialista, o mandatário irá usar o argumento de que faltou transparência no sistema eleitoral do Brasil.
Jogo
Para o cientista político, o líder do Executivo está jogando. Bolsonaro está preparado para ambas as possibilidades, para o voto impresso ou não. O mandatário construiu uma narrativa que convenceu seus eleitores.
A grande questão se trata em saber qual será o resultado das urnas. Jair Bolsonaro irá contestar “porque faz parte da estratégia dele”, afirmou Melo.
Estados Unidos
Para Carlos Melo, ainda existe o risco de se ver no Brasil o que aconteceu nos Estados Unidos depois que Donald Trump foi derrotado por Joe Biden, quando houve uma contestação violenta do resultado das eleições naquele país.
No dia 6 de janeiro, apoiadores de Trump ouviram o chamado do então líder do Executivo federal americano, que questionava o resultado do pleito eleitoral, invadiram o Capitólio, onde funciona o Congresso dos EUA, em um episódio que teve como resultado cinco mortes.
Passados 6 meses da posse de Joe Biden, ainda existem republicanos que estão promovendo uma recontagem dos votos em um dos condados do Arizona, em uma tentativa de provar que realmente houve fraude na eleição perdida por Donald Trump. Melo afirmou que se o sistema de votação for modificado no Brasil, isso iria permitir vários pedidos de recontagem de votos, assim como aconteceu no país da América do Norte.
Vacinas
Mesmo com a grande polêmica das investigações em irregularidades na compra de imunizantes, o tema que tem dominado o noticiário e a agenda do governo federal nos últimos dias, Jair Bolsonaro continua falando sobre a volta do voto impresso.
O ocupante do Palácio da Alvorada usou o Twitter na última quinta-feira (1°) para dizer que estaria se antecipando a problemas no próximo ano, pois da maneira que está “a fraude está escancarada”, disse Bolsonaro no vídeo publicado na rede social. Ele ainda afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi tirado da prisão para que pudesse ganhar a eleição por meio de fraude.
