O dia era 7 de janeiro e o lugar era Paris, França. Homens armados invadiram o prédio do jornal "Charlie Hebdo" e mais de 10 pessoas foram mortas. Naquela semana, e na seguinte, o caso foi notícia em tudo quanto é jornal, rádio, site, programa de televisão e tema de discussões nos quatro cantos do globo. Quase 3 meses depois e quase não se ouve falar mais no assunto. No entanto, ficam as perguntas: o que aconteceu? Por quê aconteceu? O que mudou desde então?
O documentário C'est dur d'être aimé par des cons ("É difícil ser amado por idiotas") foi lançado cerca de um mês depois dos ataques e conta desde o dia a dia dos cartunistas até os processos contra o jornal.
É nítido que esses não se importavam com opiniões alheias. No próprio documentário, um deles afirma que o mundo despeja milhares de informações sobre nós; eles encontravam nelas uma forma de rir. Era isso "brincar com fogo"?
2015 não foi a primeira vez que o jornal "sofreu consequências" por suas publicações acidamente críticas: já havia sido processado várias vezes antes. O grande ponto que gera discussão é: até onde vai a nossa liberdade de expressão? Até onde nossa crítica interfere no respeito ao outro? - seja quanto à religião, sexo, cor, crença e multiculturalismo. Liberdade de expressão tem limite, afinal?
Outra questão a ser levantada é: os alvos eram nominais. O que isso significa?
Bem, após o atentado ao jornal, pessoas que estavam fazendo compras em um mercado, judeus, mais especificamente, também foram atacados. Isso nos abre os olhos para uma coisa: não foram atacadas pelo que faziam, mas, sim, pelo que eram. Isso acaba remetendo à um erro muito comum na nossa metade ocidental que é a marginalização dos muçulmanos na sociedade europeia: enquanto os franceses representam o Ocidente, os terroristas acabam representando toda uma sociedade muçulmana do oriente aos olhos da maioria de nós, infelizmente.
A mudança quanto à isso também é gritantemente necessária.
Onde a lei entra nisso tudo? A legislação francesa permite a liberdade de escrita, fala e publicação. E no Brasil, por exemplo? Quais são os nossos direitos assegurados por nossas leis e normas vigentes? Na França, milhares de pessoas mostraram apoio não especificamente ou somente ao jornal, mas á liberdade de se expressar e foram às ruas, lotaram praças, mostrando respeito e pesar pelas vidas perdidas em nome dessa liberdade, tudo isso apesar do fato de o jornal ser marginal: não estava entre os mais queridos dos franceses e a venda nem de longe se compara com a atingida após o ataque.
No Brasil, não na mesma proporção, jornais também já foram atacados, mas nada foi feito.
Apesar de toda a polêmica e da perda de, acima de cartunistas, amigos, os sobreviventes do jornal, no entanto, passam longe da ideia de parar. Como é dito no documentário, os cartunistas afirmam que continuar desenhando "[...] não é resistir, é sobreviver"; e a "edição dos sobreviventes", como foi chamada a edição seguinte ao atentado, teve uma tiragem de 5 milhões de cópias.
A conclusão a ser tirada disso tudo é: a mudança é necessária. A opinião individual deve ser assegurada e não é aceitável que exista medo em se expressar. Cada ser humano deve respeitar a crença do outro da mesma forma que o outro tem que respeitar a opinião de quem não concorda com sua crença. A livre expressão é o que constrói a nação, já diziam os Raimundos.