Entre os anos de 2008 e 2015, 78% dos assassinatos de transexuais no mundo aconteceram na América Latina. No ano passado, uma onda de crimes de ódio assolou a Argentina. No México, três mulheres trans foram brutalmente assassinadas em menos de duas semanas - até agora, foram contabilizados 50 assassinatos neste ano. Essa realidade é semelhante à do Brasil, onde a Transfobia é a causa da morte de centenas de pessoas todos os anos, fazendo com que a média de expectativa de vida não ultrapasse os 35 anos. Há ainda outro ponto em comum: nas páginas que trazem as notícias de espancamentos e assassinatos, o discurso reproduzido nos comentários é sempre voltado para o questionamento da moralidade e da "legitimidade" desses sujeitos.
Paola Ledezma tinha 23 anos e se prostituía na Cidade do México para ganhar a vida. Na noite de 30 de setembro entrou no carro deArturo Delgadillo, ex-militar e segurança, deixando sua amiga, Kenya Cuevas, no ponto em que trabalhavam. Delgadillo atirou em Paola a cerca de 30 metros de onde estava Kenya, que ainda a ouviu gritando e, indo a seu socorro, teve tempo de ver o assassino segurando a arma. A amiga correu para alertar a outras que estavam pelo local e uma viatura que passava pela rua foi alertada. Dois policiais interceptaram Delgadillo e o apreenderam com uma pistola 9mm. Apesar do testemunho dos próprios oficiais, de Kenya e de outras pessoas que transitavam pelo local movimentado, apenas dois dias depois do assassinato Delgadillo foi posto em liberdade pelo juízGilberto Cervantes Hernández, que considerou não haver provas suficientes para o indiciamento.
Itzel Durán Castellaños, de apenas 19 anos, foi vencedora do concurso Nuestra Belleza Elegancia em 2015. A jovem foi esfaqueada na madrugada de 8 de outubro em sua casa, em Chiapas. O suspeito de assassinar Itzel, Antonio N., foi preso no dia 11 de outubro e, segundo a polícia, vinha assediando a vítima a partir de chamadas telefônicas constantes.
Alessa Flores, de 28 anos, era prostituta, ativista e mantinha um canal no YouTube chamado "Memorias de una Puta". Seu corpo foi encontrado no dia 13 de outubro em um hotel na Cidade do México. Segundo os investigadores, Alessa morreu por asfixia e a polícia ainda não identificou nenhum suspeito.
As vidas dessas três jovens - e a forma como faleceram - representam a trajetória de muitos e muitas transexuais que ainda hoje precisam lutar pelo direito de serem quem são.
Seu direito à existência é minado por discursos conservadores que, por meio da distorção e da invalidação de suas condições, promovem o ódio contra sujeitos que não se identificam com o gênero que lhes é designado no nascimento.
Além da Violência recorrente, o estigma vivido por essas pessoas é reforçado pela omissão de instituições como a polícia e o sistema judiciário, a exemplo dos casos de Paola e Alessa. De acordo com ativistas trans, a atuação dos oficiais esconde irregularidades e deficiências que fazem com que um grande número de crimes motivados por transfobia permaneçam impunes.