No ano passado, durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, inúmeros deputados e senadores ganharam destaque na política. Não se destacaram por seus projetos, até porque muitos, não os possuem ou os possuem, mas nunca apresentaram algo com relevância popular para ser votado.

O destaque se deu, exclusivamente, porque uma grande massa da população estava revoltada com a situação do país. Alguns, porque sofriam com a crise econômica, outros, por acreditarem que é possível o fim da corrupção no país e outro grupo, simplesmente, seguia o time que dava mais tiros na guerra política.

Logo, parlamentares, hoje esquecidos da imprensa e até de seus seguidores, como Marco Feliciano, Magno Malta, Ana Amélia, Ronaldo Caiado, Eduardo bolsonaro e tantos outros, eram sempre exaltados, pois estavam se opondo ao governo da antiga presidente, que seria o causador de todos os males políticos.

A presidente caiu, a polarização deixou de ser explicita e os parlamentares deixaram de ser tão interessantes. Os assuntos mais buscados na internet, deixaram de ser política, e voltaram a ser entretenimento e esportes.

O mal do fanatismo

Um detalhe que chama a atenção é o fanatismo de alguns grupos. O fanatismo, em si, é sempre ruim, seja qual for a sua inspiração: um político, um esporte, uma celebridade, etc.

Pela internet, existe um grupo de pessoas, em sua maioria jovens ou pessoas mais velhas que acreditam que intervenção militar é o mesmo que regime militar, que apoiam o deputado Jair Bolsonaro. Até aí, não haveria nenhum problema, afinal, o Brasil goza de sua plena democracia. O problema é o fanatismo.

Pelo site oficial da Câmara dos Deputados, e possível pesquisar pelo nome de qualquer deputado.

Na pesquisa, é possível buscar a relação de gastos com a cota parlamentar, a lista de presença em votações, sessões e comissões, dentre outras informações importantes.

Recentemente, houve destaque para o número de faltas do deputado Jair Bolsonaro, que coincidentemente, quando faltava, estava viajando para participar de eventos políticos com sua militância.

O vice procurador-geral eleitoral, Nicolao Dino, em março desse ano, pediu uma multa para Bolsonaro, por propaganda eleitoral antecipada. O parlamentar nega que esteja fazendo campanha e se diz vítima da esquerda. Os fãs de Bolsonaro, justificaram suas faltas e dizem que ele está certo em faltar. O deputado não teve coragem de votar em 10 votações desse ano, conforme é possível consultar no site da Câmara. Seus fãs dizem que esse fato é uma mentira inventada pela esquerda.

Bolsonaro já gastou mais de R$26 mil da cota parlamentar, em passagens aéreas em 2017, sendo que R$4.758,72 foram gastos em janeiro, quando a Câmara não possui expediente, pois está em recesso. Os gastos detalhados e gerais, de Bolsonaro e de todos os outros parlamentares, estão disponíveis para consulta pública, mas mesmo assim, seus fãs usam a internet para desferir xingamentos, dizendo que essa informação foi plantada pela esquerda, pois Bolsonaro já desmentiu os fatos.

Bolsonaro declarou que quer Delfin Neto, ex-aliado dos governos de Lula e Dilma, para ser seu conselheiro. Os seus fãs não negam, pois foi dito pelo próprio deputado, mas justificam que Delfin agora não gosta da esquerda.

Bolsonaro negocia sua ida para um partido que ainda não foi criado, o Muda Brasil, de Valdemar Costa Neto, condenado no Mensalão e investigado pelo recebimento de propina no Petrolão. Seus seguidores dizem que é mentira e que Valdemar não é mais culpado dos crimes que geraram sua condenação, pois o STF perdoou sua pena, ano passado. O discurso é contrário ao pregado por Bolsonaro, mas o fanatismo tem resposta pra tudo.

O mais incrível do fanatismo desse grupo é que há um ano, eles acusavam defensores de outras ideologias, de serem fanáticos e cegos por opção.

Hoje, eles fazem exatamente o que criticavam nos outros, e quem percebe, é rotulado de esquerdista, mesmo que seja apolítico. O problema não é apoiar Bolsonaro. O apoio é democrático. O fanatismo é perigoso.

Enfim, o problema do fanatismo é que cega as pessoas. Poderia não ser com Bolsonaro. Poderia ser com Lula, Aécio, a Xuxa, o Papa, ou quem quer que seja. O fanatismo torna até o mais nobre intelectual em um ignorante por opção. Fechar os olhos diante dos fatos, sejam eles corriqueiros ou contraditórios ao que é pregado por alguém, não muda a realidade, mas permite o surgimento de uma bolha, onde todos que não entram nela, embora a respeite, são rotulados de perseguidores.

Enquanto houver fanatismo, haverá o jeitinho brasileiro de justificar tudo! Inclusive de dizer que qualquer pessoa que fale a verdade, sem rótulos, é um esquerdista ou qualquer outra coisa.