Sem dúvida alguma o mundo mudou, as relações mudaram, as coisas se renovam e se reinventam a cada dia. Talvez seja um fator biológico, genético, transcendental ou até mesmo inexplicável que explicaria isto. Podemos, sim, explicar as mudanças atuais, mas não por um aspecto externo e sim no próprio homem, nas relações humanas em si. O que mudou não foi o mundo, mas a sociedade, as pessoas, as crenças.

Algo existe em comum a tudo isso, a história. Sem dúvida, a essência humana reside na história. Os animais não a tem, somente os seres humanos possuem esse modo particular de existência, de reproduzir para as futuras gerações tudo aquilo que já foi desenvolvido pelas gerações precedentes.

Todavia, essa passagem de gerações nunca foi tão delicada como nos dias atuais. Os avós que os digam.

Mundo estranho

Como já referido no artigo "Depressão, o 'terror do século XXI'", talvez tal doença psíquica seja uma das consequências ou efeitos deste mundo veloz e imprevisível. A passagem da modernidade para a pós-modernidade balançou drasticamente as relações humanas e o modo de enxergar o mundo.

Antigamente, o modelo de vida era quase que pronto. Todo ser humano da face da terra, conforme sua cultura, tinha conhecimento exatamente como fazer e o que fazer de sua própria vida. Os valores a serem seguidos eram sólidos, imutáveis. Não existia essa multilateralidade que existe hoje de crenças e pontos de vistas diversos e antagônicos entre si.

As pessoas sabiam exatamente o que fazer conforme sua religião ou suas ideologias inquestionáveis. O quadro mudou principalmente após a revolução industrial, com a explosão do capitalismo e as pessoas migrando para todo o planeta, o que acabou levando a uma mistura de culturas e a uma crise de valores.

Valores infinitos

Muitas pessoas costumam olhar para o contemporâneo e dizer que os valores sumiram e que tudo não passa de um mero ponto de vista.

Porém, a questão principal não é o desaparecimento dos valores, mas a sua imensidão. Os valores não sumiram, pelo contrário, hoje são inúmeros. A dificuldade portanto, não está em criar novos valores, ainda que sejam inevitáveis, mas está na escolha dos já existentes.

A sociedade pós-moderna se encontra em crise porque a palavra escolha está presente a cada segundo de vida.

Nunca foi tão difícil escolher, pois as escolhas estão presentes a cada momento. E cabe a nós, agora em diante, lidar com elas.

A sociedade de fato se desenvolveu absurdamente, mas as pessoas, por outro lado, se perderam num emaranhado de indecisões e incertezas.

Autoconhecimento

Talvez seja a primeira vez na história humana que o conhecer a si mesmo é tão necessário e requerido. Saber quem somos nesse mar de mudanças e imprevisibilidades é ponto fundamental para ter uma vida mais controlável.

Pelos milênios, os seres humanos lutaram afincadamente por uma coisa: liberdade. Hoje, ainda não que acabada, nós a conseguimos, ou quase a conseguimos; a questão é saber lidar com ela.

Ser livre não é tão simples porque implica responsabilidade de vida, de escolhas de vida.

Era muito mais fácil ter alguém ou uma ideologia que dissesse para a sociedade como viver. Mas atualmente já não cabe esta tal visão. O que cabe é decidir o que queremos de nós mesmos e do futuro.

Talvez uma boa alternativa seria começarmos a investigar o que gostamos, o que queremos e o que devemos modificar em nós. Devemos criar uma base sólida para navegar neste mar bravio.