A campanha é grande como só poderia ser, indaga-se ao povo: "como é o Brasil que queres para o futuro?" Uma indagação que sequer merece resposta. Não há quem diga desejar algo além de um país melhor do que o que aqui se tem, o que se diz com tamanha abstratividade que não há oposição a enfrentar: um país sem corrupção, com um bom sistema de saúde e educação e, claro, maior segurança; nesses termos não há quem diga o oposto (nem mesmo o beneficiado se manifestaria em prol da corrupção). Isso porque a realidade do mundo não se faz presente, tudo o que se tem é a manifestação de uma ideologia, de um mundo ideal (parcialmente compartilhado) em sua plena abstratividade, distantes do mundo em sua faticidade, isso é, distante do sofrimento.

"O Brasil que eu quero para o futuro" é o alimento da esperança mas não daquela que leva ao verbo esperançar, mas ao verbo esperar. O sonho com o futuro é a morte pela inanição, ele te mantem à cama, aquecido pelo cobertor da ignorância, embala o teu sono e converte teu leito em mortalha sem que, antes, possa se levantar. O que eu quero, como já dizia Oswaldo Montenegro, é "ser feliz agora", o Brasil que quero é agora.

Antes de se falar em futuro é necessário olhar para o presente e nele se faz vivo um monstro que tem cor, que tem cheiro, que faz barulho: o preconceito. Preconceito que chegou a um nível de profissionalismo tão elevado que tornou-se produto de exportação.

Rússia, 2018: Brasil 1 - Suíça 1.

O resultado não agradou, esperava-se que o Brasil desse show, mas em termos de preconceito faz-se escola, diante de tamanho profissionalismo não há decepção.

Rússia, 2018: quatro indivíduos vestidos com a camiseta da Seleção Brasileira de Futebol cercam uma mulher, aparentemente de nacionalidade russa e ali estando gritam uma frase em referência ao órgão sexual feminino, a mulher, que não entende o idioma, no clima de comemoração que a Copa do Mundo carrega consigo, apenas sorri e tenta repetir o grito, um "grito de comemoração" pensa ela, mas não, é um grito de preconceito, que vem para diminuir, inferiorizar, degradar.

Essa mulher não compreendia o idioma, mas outras mil as compreenderam e a "brincadeira" não vai sair barata.

Mas não se menospreze esse país, o ato não é apenas de preconceito, mas também de violência, de constrangimento, de desumanização. O país do futebol amargura na busca do hexa, mas parece prosperar em termos de preconceito.

Mas, calma, ainda há esperança, mas esperança de esperançar, não de esperar. Educação, segurança, combate à criminalidade e à corrupção andam juntas, e se não se pode partir de um plano macro, isso é, se o Estado não confere condições adequadas à busca por esses ideais, cabe a cada um carregar a pedra que é capaz: A leitura de um livro, a mão amiga, o respeito, a rigidez ética que não admite cegueira voluntária, nem mesmo pelos seus, ou por si... Só assim se pode cruzar essa ponte sem que se caia por ela, apenas assim se pode escapar dessa morte severina a que foi condenado o brasileiro, seja pela ausência de condições minimas de subsistência ou pela violência em face do preconceito, com a participação ativa do todo social, com o despertar para esse mundo que aqui está.