Um flerte que já dura quase 20 anos e ainda não terminou no sonhado final feliz de conto de fadas. Assim andam as negociações que buscam o estabelecimento de uma ponte comercial entre a União Europeia e o Mercosul.

O acordo de livre comércio é desejado por ambos os blocos econômicos e durante as últimas semanas colocou em alvoroço a comunidade empresarial e política daqui e de lá.

As fontes não concordam entre si, com declarações da iminência do fechamento de acordo entre América do Sul e Europa; outras fontes dizem que ainda se devem aparar algumas arestas que impedem o estabelecimento de uma relação privilegiada e cobiçada por outros blocos econômicos espalhados pelo mundo.

Primeiro gesto

Governantes máximos de seis países se juntaram ao coro do primeiro-ministro de Portugal, Antônio Costa, ao apoiarem uma carta cujo teor pede mais rapidez e vontade nas negociações com os países do Mercosul. Alemanha, Letônia, Suécia, Espanha, República Tcheca e Holanda se solidarizam com esta carta, pedindo que o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, avance a bom termo na assinatura de um acordo comercial com o Mercosul.

Em certo trecho da carta enviada a Bruxelas, os líderes expressam preocupação com o “aumento da ameaça do protecionismo e outros fatores geoestratégicos” que impactem no movimento do comércio internacional. Na sequência, eles lembram que o contexto atual em que o mundo se encontra pode gerar uma ótima oportunidade de se fechar um acordo muito importante para a Europa do ponto de vista comercial.

Números e avanços

Os governantes reforçam que o Mercosul é um mercado de cerca de 260 milhões de pessoas e a que finalização do processo de negociações marcaria o reconhecimento do esforço dos países-membros do Mercosul em superar questões internas e convergir em direção à União Europeia.

Para os mesmos líderes da UE, certos setores são considerados peças-chave no tocante a maior acesso.

Alguns alvos dos europeus seriam as indústrias automobilística, química e manufatureira.

No desfecho da carta, pediu-se a Jean-Claude Juncker que faça uma oferta baseada no equilíbrio e na razoabilidade. Por sua vez, a Comissão Europeia declarou empenho nas rodadas de negociação, visando a um final feliz; entretanto, salientou que há trabalho para se fazer.

Dentro do contexto da Comissão, as negociações passam por fases. Primeiramente, os debates se concentram nas questões técnicas. Uma vez que haja bom êxito no aspecto técnico, membros da Comissão Europeia acenam com a possibilidade de debates no nível político para os próximos dias. Um sinal de vontade e de rapidez no fechamento de um acordo. Segundo apurado, este seria o último estágio antes da concretização da assinatura do tratado de livre comércio.

Prosseguimento

Neste domingo (23), as delegações de Uruguai, Argentina, Brasil e Paraguai se reúnem em Bruxelas na tentativa de superar as pendências. Entre os assuntos mais sensíveis estão a agricultura, o açúcar e a carne bovina.

Em relação à agricultura, outra carta foi enviada nesta semana para a sede da União Europeia, afirmando certa preocupação com os efeitos do caminho traçado no estabelecimento das trocas e movimento comercial.

Irlanda, Polônia, França e Bélgica temem certa imprevisibilidade e ameaças à agricultura europeia.

Na carta assinada pelos sete países mencionados inicialmente, afirma-se que a “Europa segue acreditando no comércio baseado em regras, um comércio justo que possa criar prosperidade e riqueza”.

O primeiro sinal de aproximação entre Mercosul e União Europeia aconteceu em Buenos Aires, capital da Argentina, em 2000 e de lá para cá, realizaram-se mais de 30 reuniões de negociação intercaladas com períodos de suspensão e bloqueio de atividades visando ao diálogo.