O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), dirigiu-se à nação por meio de um pronunciamento em rede nacional de televisão na véspera de Natal. O colunista Leonardo Sakamoto, do portal UOL, analisou vários trechos da fala de Bolsonaro e mostrou o quanto do que foi dito pelo líder do Executivo não era exatamente a realidade do país.

É prática costumeira entre presidentes pintarem o país com cores mais vivas ao se dirigirem para o povo. É algo que faz parte da liturgia do cargo, disse o colunista, que comparou esta prática como sendo algo semelhante ao que um animador de auditório faz, ainda mais quando o objetivo é incentivar o setor econômico.

Contudo, o jornalista afirma que o que Bolsonaro fez foi algo totalmente diferente, como, por exemplo, quando o presidente afirma que o ano está terminando “sem qualquer denúncia de corrupção”, disse.

Segundo Sakamoto, parece que Bolsonaro esqueceu todas as denúncias envolvendo o PSL, o partido que até bem pouco tempo ele fazia parte.

O partido é acusado de ter administrado várias candidaturas laranjas. Marcelo Álvaro Antônio, ministro do Turismo, foi indiciado pela Polícia Federal (PF) e também foi denunciado pelo Ministério Público (MP). Até mesmo a campanha do então candidato Jair Bolsonaro está sendo investigada por, supostamente, ter sido financiada pelo esquema de laranjas do PSL.

Sakamoto ainda cita as investigações que apontam seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido), e também todo o clã Bolsonaro, que pode estar envolvido em esquema de desvios de recursos públicos, que tem, na figura de Fabrício Queiroz, um homem de confiança para gerenciar o possível esquema criminoso.

Bolsonaro também destacou em sua fala que “O mundo voltou a confiar no Brasil”, mas, sob sua gestão, o país deixou de ser considerado uma referência mundial contra as mudanças climáticas e acabou se tornando um pária ambiental.

No artigo do UOL é visto que o presidente, por meio de seus discursos e por meio do desmonte da fiscalização, incentivou as queimadas e o desmatamento na Amazônia.

Além disso, países que contribuíam financeiramente com o Brasil para ajudar na questão ambiental deixaram de fornecer recursos até que o país prove que está engajado na questão ambiental.

Deus existe

Outro ponto destacado pelo jornalista na fala do presidente é quando ele diz que “hoje temos um presidente que acredita em Deus”, o que dá a entender que seus antecessores não tinham fé em Deus, o que não seria uma verdade, apontada por Sakamoto, uma vez que quase todos os presidentes acreditavam em Deus, à exceção de Getúlio Vargas, que era agnóstico e mesmo assim instituiu o ensino religioso nas escolas públicas, no ano de 1931, em nome da governabilidade.

Outro agnóstico que ocupou a presidência foi Fernando Henrique, que atuou como agnóstico não-praticante, ao se ajoelhar e dizer amém para a igreja.

Bolsonaro parece esquecer que o papel do presidente é defender o direito de todos os cidadãos possuírem suas próprias crenças, sem que uma se sobressaia às outras. Uma prova do equivoco de Bolsonaro nesta área foi quando sua esposa Michelle Bolsonaro participou de uma transmissão oficial de Estado com uma camiseta em que estava escrito “Jesus”.