A Turquia foi um dos últimos países a começar a ter registros do novo coronavírus, agora o país vê o número de novos infectados pelo vírus chegar próxima da marca de 5.000 por dia. Em meio a essa situação.

A Turquia tem em pauta a discórdia entre aqueles que defendem o fechamento completo de cidades e os que acham que a economia não pode parar situação parecida com o que ocorre no Brasil.

Isolamento vertical

O presidente da Turquia, Recep Erdogan, chegou a afirmar que a "roda da economia" não pode parar, adotando assim posicionamento semelhante ao de seu par brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido).

A Turquia adotou o isolamento vertical, o tipo de isolamento que Jair Bolsonaro defende.

O presidente turco afirmou na semana passada que seu país tem todas as condições para fazer com que as rodas de produção continuem girando. Recep Erdogan dá conselhos para a população não sair de casa, ao mesmo tempo em que agradece àqueles que trabalham para a continuidade da produção.

A Turquia anunciou há um mês seu primeiro paciente contaminado pelo novo coronavírus, no último dia 14 de abril, o país já contabilizava 61.049 casos, de acordo com as informações do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças.

O governo turco afirmou que mais de 400 mil pessoas fizeram o teste para a doença. Desde o dia 10 de abril, os testes feitos diariamente passaram a marca de 30 mil.

A Turquia possui uma população de aproximadamente 82 milhões de habitantes.

Em 8 dias, o número de mortes dobrou, na manhã da última quarta-feira (15) o número de óbitos era de 1.296. Este número representa o equivalente a uma taxa de cerca de 15 óbitos por milhão de habitantes. No Brasil, são aproximadamente 6 óbitos a cada milhão de pessoas.

Crianças e idosos

Nas ruas da Turquia estão proibidas de circular crianças, adolescentes e idosos. Além de ter um posicionamento semelhante ao do mandatário brasileiro na questão da economia, o presidente turco também é um defensor do isolamento vertical, ou seja, que somente alguns grupos da sociedade estão proibidos de circularem pelas ruas.

Na Turquia, a decisão vale para crianças, adolescentes e idosos. Mais de 9.000 pessoas desses grupos já receberam multas por não cumprirem a determinação.

As pessoas que estão entre 20 e 65 anos de idade, parte expressiva da classe trabalhadora no país, estão liberadas para circular. As máscaras de proteção são de uso obrigatório para estas pessoas. A Turquia adota medidas menos restritivas se comparado com outros países da Europa e da Ásia, que chegaram a decretar quarentena. Sindicatos turcos pedem que o governo dê fim a todo o trabalho não essencial pelo período de pelo menos 15 dias.

O Ministro da Saúde da Turquia, Fahrettin Koca, afirmou, em suas redes sociais, que o sucesso do país contra o novo coronavírus "depende do isolamento".

Ele disse ainda que o vírus fica mais poderoso por meio do contato. E que o governo não dará esta oportunidade ao vírus, disse ele que ainda ressaltou para as pessoas ficarem em casa. Porém, no país não existe uma medida que determine o isolamento social de toda a população, mas os infectados estão sendo rastreados por meio de seus celulares.

A localidade mais afetada na Turquia é Istambul, a maior cidade do país, que tem mais de 15 milhões de habitantes. Pelo menos um em cada três casos de infecção no país está em Istambul. O prefeito da cidade, Ekrem Imamoglu, defende que a melhor solução contra o novo coronavírus na cidade é o toque de recolher, porém empresas e lojas continuam funcionando.

Surpresa

Na última sexta-feira (10), o presidente turco tomou uma medida inesperada, ele determinou um toque de recolher apenas para o fim de semana. A medida, porém, foi criticada, pois foi anunciada apenas poucas horas antes de vigor na própria sexta. Com isto o que se viu foram aglomerações nas ruas com pessoas querendo comprar suprimentos para se abastecerem até o domingo. No próximo final de semana a medida será repetida.

CHP

O CHP (Partido Republicano do Povo), partido opositor ao governo Erdogan, avaliou que esta medida tomada pelo presidente para beneficiar a saúde pública acabou se tornando uma ameaça para a própria saúde pública, por causa da falta de planejamento, e que o sacrifício feito pelas pessoas se isolaram, foi desperdiçado.

Erdogan, no entanto, diz que não há motivos para preocupação porque não existe falta de medicamentos e que o país tem leitos suficientes nos hospitais. Sendo assim, a Turquia tem mandado materiais para outros países no momento. O presidente turco assegura que além de atender às necessidades dos próprios turcos, também consegue atender às solicitações de outros países que pedem ajuda à Turquia, declarou o presidente na última segunda-feira (13).

Contudo, especialistas na área econômica da Turquia declararam que se a curva do novo coronavírus continuar crescendo, talvez o toque de recolher em tempo integral se faça necessário. No Brasil, Thiago Ghere Galvão, professor de Relações Internacionais da UnB (Universidade de Brasília) afirma que o presidente da Turquia tem se utilizado de uma perspectiva nacionalista para combater a Covid-19.

Galvão continua sua fala dizendo que assim como outros governantes em outros países, Erdogan tem usado o combate à doença como uma plataforma política.

Assim como o presidente Bolsonaro, Erdogan também critica a imprensa e também faz uso de um discurso religioso ao falar sobre a pandemia. No domingo (12), ele publicou nas redes sociais que o país irá vencer a guerra contra o novo coronavírus “com a permissão de Alá”.