A CPI da Covid ouviu nesta quarta-feira (16) o depoimento do ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel. Eleito em 2018 como aliado de Bolsonaro, Witzel foi afastado do cargo em 2020 por acusações de desvio de verbas destinadas à área da saúde.

Interferências no caso Marielle

Apesar disso, Witzel começou seu depoimento apresentando uma tese de que seu afastamento do cargo foi resultado de uma perseguição política armada pelo governo federal. Segundo o ex-governador, ele passou a ser persona non grata no Planalto após determinar a investigação da morte da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018.

Rompimento do governo com o estado do Rio de Janeiro

Embora o teor das declarações tenha passado longe do assunto da pandemia em um primeiro momento, as informações do rompimento de Bolsonaro com Witzel justificariam a falta de ajuda do governo federal ao estado do Rio de Janeiro. Para Witzel, o presidente vendeu a narrativa à população de que os governadores seriam os responsáveis pelo desemprego causado pelas medidas de isolamento social. Essa narrativa minaria a reputação dos governadores e isentaria a União de qualquer responsabilidade.

"O presidente deixou os governadores a mercê da desgraça que viria", disse o ex-governador.

Bate boca e insinuações

Como já virou costume nessa comissão, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) não poupou esforços para tumultuar o depoimento.

Em um dado momento foi levantada a hipótese de que as informações do caso Marielle poderiam colocar a vida do depoente em risco e por conta disso seria prudente convocar uma sessão fechada para ouvir o ex-governador. Nesse momento, Flávio Bolsonaro começou a intimidar Witzel dizendo: "Se for reservado, vou estar presente também.

Sou senador da República".

Como resposta, o ex-governador disse: "Senador, o senhor pode ficar tranquilo que eu não sou porteiro. Não vai me intimidar, não", fazendo alusão a uma situação que envolvia as investigações do caso Marielle. A situação remete a 2019, quando um dos porteiros do condomínio onde Jair Bolsonaro tem casa afirmou em depoimento que o "Seu Jair" havia liberado a entrada do ex-PM Élcio Queiroz, preso acusado de assassinar Marielle.

Witzel se retirou do depoimento após bate-boca

Witzel usou o habeas corpus concedido pelo STF, que assegurava a ele o direito de deixar a CPI quando quisesse, para se retirar quando começou a se sentir atacado pelos senadores.

Na coletiva que deu depois da sessão, voltou a mencionar o caso Marielle e insinuou interferência do governo nas investigações.