O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a falar nesta quinta-feira (12), em um evento no Palácio do Planalto, que tem o total apoio das Forças Armadas. A declaração aconteceu na cerimônia de promoção de oficiais-generais, justamente quando o Governo federal atravessa uma crise com o STF (Supremo Tribunal Federal) e dois dias depois de Bolsonaro acompanhar, ao lado dos líderes militares, o desfile de blindados da Marinha diante do Palácio do Planalto.
Vergonha
Na cerimônia estavam presentes o vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB), o ministro da Defesa, general Braga Netto, e também os chefes das Forças Armadas.
Dos citados, apenas o vice-presidente estava usando máscara. A fala acontece na mesma semana em que, de acordo com reportagem da jornalista Thais Oyama, do UOL, o comandante Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira foi pressionado pelo Alto Comando do Exército para que não participasse do desfile militar em Brasília. Alguns dos oficiais declararam que estão com vergonha do que aconteceu.
O desfile de veículos militares recebeu críticas por ter acontecido no mesmo dia em que estava programado pela Câmara dos Deputados a votação da proposta de implementação do voto impresso, medida que acabou sendo rejeitada pelos parlamentares.
Recado
Em outras ocasiões, Bolsonaro já classificou as Forças Armadas como um "um poder moderador", o que não é verdade.
Aliados do governo federal distorcem um vídeo de 2018 em que aparece o jurista Ives Gandra. Os bolsonaristas construíram a narrativa falsa de que Gandra estavam mandando um recado ao Supremo. Na verdade, o jurista estava criticando decisão do ministro Luís Roberto Barroso sobre o indulto natalino concedido pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) no final de 2017.
No mês de maio de 2020, o UOL ouviu especialistas que disseram que a função de poder moderador foi encerrada ainda na época do Império e que as declarações de Ives Gandra poderiam ser usadas para incentivar discursos a favor de um golpe.
Por diversas vezes, o ocupante do Palácio da Alvorada já disse a expressão “meu Exército”, que foi entendida como uma maneira de politizar as Forças Armadas.
No mês de julho, o general da reserva Santo Cruz, que já foi ministro da Secretaria de Governo, afirmou que Bolsonaro está blefando quando diz que tem o apoio institucional dos militares.
Santos Cruz voltou a repetir essa percepção em entrevista ao canal do YouTube Sua Excelência, O Fato, quando perguntado sobre o assunto. O militar ainda afirmou que grande parte da população acredita que as Forças Armadas estão apoiando o governo Bolsonaro pelo alto número de militares que ocupam cargos no governo federal atualmente.