A estreia nos cinemas do aguardado quarto filme da saga Matrix, "Matrix - Resurrections", teve como concorrente direto a ainda mais esperada estreia de "Homem-Aranha - Sem Volta para Casa".

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Se não bastasse a briga pelas bilheterias no Cinema, o filme da diretora Lana Wachowski, ainda teve que ver a Netflix tomar conta das redes sociais com a estreia de "Não Olhe para Cima". A comédia/filme-catástrofe de Adam McKay conta com um elenco inacreditavelmente repleto de astros do cinema que narra uma história desconcertante.

A nova aventura de Neo e Trinity foi varrida para debaixo do tapete pela terceira aventura do "Homem-Aranha" produzida pela parceria Marvel/Sony e pela comédia ácida da Netflix, ou seja, "Matrix 4" não se garante.

Fan service

O que aproxima o quarto capítulo da saga Matrix e a terceira aventura do amigo da vizinhança é que ambos são produções feitas para agradar os fãs, ou seja, são inseridos nas tramas vários elementos de filmes anteriores de ambos os universos (no caso do super-herói da Marvel Comics também são inseridos elementos das HQs).

Porém, enquanto o diretor Jon Watts consegue utilizar o recurso de maneira magistral, Lana Watchovsky pesa na mão ao rechear sua obra com referências explícitas aos três primeiros filmes, especialmente o primeiro longa de 1999.

O novo Matrix é claramente um filme feito para convertidos e parece não utilizar o clichê de apresentar este universo para as novas gerações.

Até aí nenhum problema, mas o que torna esta opção estilística sem nenhum sentido é que a cineasta parece não acreditar na inteligência do espectador e a todo instante utiliza cenas dos filmes anteriores.

Um exemplo do exagero desse recurso é quando um personagem fala sobre quando Neo se desviou de balas na primeira aventura, a cena original é reprisada.

E este tipo de coisa irá ser vista durante todo o filme.

Mais do mesmo

O primeiro filme da saga se tornou referência em Hollywood, suas inovações tecnológicas foram revisitadas em diversos filmes e séries.

Os dois filmes seguintes foram rodados ao mesmo tempo e estrearam em 2003. O segundo, "Matrix - Reloaded", se não era tão revolucionário quanto o primeiro, não deixou a bola cair no quesito efeitos visuais e apresentou novas ideias e novos personagens interessantes.

O terceiro capítulo "Matrix - Revolutions", por sua vez, foi um amontoado maçante de ideias já vistas nos filmes anteriores.

O mesmo acontece com o quarto filme da saga, que não apresenta nada de novo em termos técnicos e ainda deixa a desejar em determinadas cenas, algo imperdoável para este tipo de produção.

Sem disfarçar sua falta de originalidade, o filme reproduz fielmente o que já foi visto há pouco mais de duas décadas.

Filosofia

Se muitos já achavam a filosofia apresentada nos capítulos anteriores algo sofrível, os diálogos deste novo filme poderão causar uma crise de risos.

Expectativa frustrada

O primeiro trailer do filme era algo promissor, pois dava somente algumas pistas do que seria visto no filme.

Porém, já mostrava que Neo era um homem que duvidava de sua sanidade ao ter sonhos com os eventos já conhecidos do público.

O filme abandonou o caminho promissor para abraçar o banal, mas no meio do caminho sobrou um tempo para os roteiristas Lana Wachowski e David Mitchell fazerem uma graça e discutirem o aspecto comercial de uma obra de arte. Para isso eles usaram a própria quadrilogia Matrix, no filme uma série de videogames, para fazerem uma crítica à indústria cultural.

Em suma, a única coisa que salva em "Matrix - Resurrectisions" é a frase de efeito dita por Neo "I still know kung-fu" (Eu ainda sei kung-fu), pena que ele não tenha usado tanto assim suas habilidades de luta, quem sabe assim salvaria o filme do marasmo.