Com a recente briga de facções por todo Brasil, uma tragédia sem precedentes nos presídios brasileiros, o público dos jornalísticos do Globo pode ter notado algo inusitado. A cobertura jornalística da emissora em todos os massacres recentes, como, por exemplo, o de 60 presos mortos no presídio Anísio Jobim, próximo à Manaus (AM), no dia 1º de janeiro, ou outros, como Roraima e Rio Grande do Norte, jamais cita o nome do PCC, FDN ou Comando Vermelho.

Existe uma regra interna na emissora que proíbe a menção de nomenclaturas criminosas em qualquer cobertura.

A Globo tem usado subterfúgios linguísticos como: "Tudo indica ser uma guerra entre diferentes facções criminosas" ou "uma facção criminosa do Estado do Amazonas". Ainda "facções criminosas rivais". Tudo para não soletrar as iniciais dos principais grupos criminosos no país, CV e PCC.

No caso, nem mesmo FDN (Família do Norte, facção ligada ao Comando Vermelho que tem origem no Norte do país) foi citada. Como cita o colunista de TV Maurício Stycer, a Globo promove um "malabarismo da língua". O motivo é nobre e histórico dentro da emissora e é respeitado à risca pelos "operários do jornalismo global".

História da proibição

A proibição existe desde os anos 1980, época que o CV (Comando Vermelho), que tem origem no Rio de Janeiro, ganhou expressão nacional e começou a integrar as notícias policiais.

A emissora, então, decidiu não citar o nome da facção por entender que isso traria uma publicidade e poderia caracterizar uma valorização das ações criminosas do bando. Além disso, essas citações poderiam fazer com que as pessoas buscassem saber mais sobre o bando e eventualmente entrassem para o crime, dada a fama e a força do CV.

A Globo tomou a atitude de não celebrar o crime. Não há nada escrito, é apenas uma orientação "top down" (manda que eu obedeço).

Vale lembrar que nos anos 1980 a Globo reinava absoluta no jornalismo nacional. Foi a época em que o Jornal Nacional apresentou médias de 50 pontos, jamais conseguidas nas décadas seguintes.

Além da TV aberta, emissoras de canal pago como o jornalístico GloboNews, da Globosat, também deveriam contar com a restrição, mas aparecem mais flexíveis.

E parece ser uma tendência, pois recentemente até o G1, site de notícias do grupo Globo, também passou a citar os nome das facções criminosas.

Na realidade, ficaria quase que impossível passar a verdade dos fatos sem o conhecimento público que existem facções e elas têm nomes. Aliás, quem se interessa pelo assunto já sabe muito bem do que se trata.

Veja alguns exemplos: