Fôlego de gato é um termo popular aplicável ao ator mineiro Lima Duarte, próximo de completar 91 anos de idade. Se para alguns artistas a pandemia impõe tempo de parada, tristeza, medo e afastamento das televisões e telas, Lima não conhece esse tipo de postura. Ao contrário, ele quer contar histórias e contracenar, ou melhor dizendo: não quer parar de trabalhar.
Motivado por já ter recebido as duas doses da vacina contra o novo coronavírus, o ator, que encarnou papéis Famosos como Sinhozinho Malta, em “Roque Santeiro”, ou Zeca Diabo, em “O Bem Amado”, revelou que voltará a aparecer na Televisão no mês que vem.
Em entrevista à revista Veja, Duarte contou que a Rede Globo o escalou para fazer “Aruanas” e o local de gravação escolhido será a cidade paulista de Cubatão.
“Quero continuar trabalhando”, disse o ator, declarando em seguida que o carinho dos fãs o ajuda a manter a chama acesa para o exercício de sua profissão. É esse mesmo carinho vindo do público que ele afirma que o faz superar o período de quarentena imposto pela pandemia.
Pelo visto, essa mesma afeição originada do público é muito importante para Lima Duarte. Na entrevista concedida à Veja ele conta que “um dia encontrei uma senhorinha que disse ‘gosto tanto do senhor’. Ela tinha tanta ternura nos olhos e falei: ‘nós envelhecemos juntos.
Você no sofá e eu na televisão’”.
Noventa anos comemorados
Perguntado sobre como festejou seus noventa anos em 2020, Lima diz que, em 29 de março, (seu aniversário) pretendia fazer uma festa. Por causa da pandemia, mudou os planos e se viu sozinho. Impossível largar de sua vocação natural, o ator mineiro montou uma sala de cinema particular dentro de sua casa com uma televisão bem grande.
É nela que vê os filmes e as produções da Netflix e da Globoplay.
Mesmo reverenciado e considerado como um dos grandes "monstros" da dramaturgia televisiva do Brasil, Lima Duarte não é tão ligado às mídias e redes sociais: "Rede? Que rede? Não entendo nada disso. Meus filhos e netos que acharam que eu tenho muita história para contar e fizeram isso.
Eles que gravam e postam, que apertam os botões".
Memórias e comparações
Não só de distração vive o grande ator. A pandemia trouxe um sentimento de mais reflexão de vida. Da memória traz suas divagações e momentos profissionais, suas obras e sua longa jornada. Além de lembrar de sua mãe e de sua infância. Apesar de chegar aos 91 anos em breve, afirma que sua existência está acabando, mas a memória vai persistir.
Lima Duarte revelou como enxerga o momento atual do mundo, fazendo comparações com fatos e acontecimentos semelhantes na Segunda Guerra Mundial.
Durante o transcorrer do evento sangrento nos anos 40 do século 20, Lima relembra como foi que chegou à cidade grande. Aos 15 anos, seu pai mencionou 80 milhões de mortos nos combates da Europa e perguntou ao jovem Lima: “o que vai ser agora?
O mundo não vai ser o mesmo”. Em seguida, seu pai arranjou uma carona e disse: “não fica nesse mato, vai enfrentar o mundo que vem aí”.
Ele termina esse trecho de sua história pessoal assim: “aos 15 anos, cheguei a São Paulo com esse sentimento que temos hoje: que mundo vem agora? Estou preparado?”
Foi o tempo que lhe mostrou e lhe permitiu tirar a conclusão de que ninguém está preparado. Que o mote e o ritmo da vida é viver e esperar acontecer.