O sentimento é de profunda tristeza e luto no leste de Minas Gerais e em todo o Brasil pela destruição irreparável do Rio Doce, que abastece as cidades abatidas por um dos maiores desastres ecológicos causados pela ganância de grandes companhias, na história de nosso país.

Minas Gerais é um estado rico em nascentes e reservas naturais do bem mais precioso para o ser humano: a água. Porém, após o rompimento da barragem que continha a lama composta por resíduos e rejeitos de mineração de ferro - o que ocorreu no dia 5 de novembro - Minas e todo o Brasil presenciaram as consequências devastadoras da negligência de responsabilidades corporativas previstas nas leis ambientais e civis.

Tais consequências não se limitaram somente à morte de peixes e outros animais que habitam as águas do Rio Doce, que percorre a cidade de Governador Valadares em Minas Gerais (cidade natal desta escritora), uma das mais afetadas pelo desastre. Seres humanos pagaram com suas próprias vidas e não foi acidente. O resto é conversa para boi dormir, como dizem os mineiros. Fenômeno, acidente, terremotos. Diversos termos e justificativas têm sido usados de maneira imprudente.

Além dos mortos, cujos reais números oficiais ainda devem ser apurados, morreram muitos animais domésticos e rurais. A fauna marítima também será atingida na costa do Espírito Santo, quando a grande massa de lama grossa resultante do desastre desaguar, destruindo a beleza do mar daquele estado.

Ainda é desconhecido de fato o número oficial de mortos e ainda é muito cedo para serem apurados. De nada adianta publicar números agora. Como sempre ocorre nestes casos, políticos e empresas contam com seus consultores de marketing para liberar informações parciais filtradas em momentos oportunos, afim de tapear os cidadãos.

Enquanto isso, a população de Governador Valadares e pequenas cidades vizinhas, conta seus mortos e sofre nas filas de distribuição de água. Micro-empresários e donos de pequenas propriedades rurais contam o seu prejuízo. Restaurantes não têm água para lavar a louça, animais sem água para beber, a água se foi.

Ambientalistas estimam que levará 100 anos para amenizar o dano causado e o Rio Doce nunca mais será o mesmo.

Já sofria o leste de Minas, assim como todo o sudeste do Brasil, com as secas periódicas e a escassez do abastecimento de água nas residências. A empresa responsável por tudo isso, ou melhor, as empresas Samarco, Vale (antiga companhia Vale do Rio Doce) e BHP cuidaram de destruir o rio que ainda malsobrevivia às agressões ambientais sofridas com o passar dos anos.

A pergunta que vem em mente com tudo isso, para onde foi a responsabilidade social e o cumprimento da lei? A troco de que estas empresas castigam a própria comunidade que as acolheu antes de mais nada? Bom, como brasileiros já sabemos que quem pagou e ainda vai pagar o prejuízo maior, claro, é o povo e, neste caso também, a Natureza.

No momento, há conversas de multas pesadas entre o governo federal e estadual e as empresas responsáveis pelo desastre. Contudo, se isso de fato ocorrer, para onde será destinada esta verba? Para os cofres do governo, obviamente. Será que o meio-ambiente verá um centavo deste dinheiro ser investido para a sua recuperação e consequentemente a população terá seu rio de volta? A história deste país prova que isso provavelmente não ocorrerá.

Essas e muitas outras perguntas ainda permanecem sem resposta. Ao passo em que a população tenta conter o pânico e recuperar-se do choque desta semana enquanto busca desesperadamente por água para suas famílias, as autoridades se movem de maneira lenta e ineficiente. Uma coisa é certa, se a natureza não for cuidada, o homem sofrerá.