“Oi, sou um rapaz de 18 anos e estou com um problema muito grande. Eu não consigo olhar nos olhos das pessoas, tenho dificuldade de me comunicar (…) em uma conversa eu tô sempre pensando em fazer com que a pessoa não me ache estranho, mas é quase impossível porque estou sempre inseguro, com medo, não consigo ficar à vontade, nem raciocinar direito”.
O depoimento acima foi publicado na página da clínica de psicologia Mental Help, localizada em Brasília (DF). O relato passa muito facilmente pelo diagnóstico de uma pessoa com síndrome do pânico. Mas não é.
Esquizofrenia. Também não é. Misantropia. Não. Sociopatia. Muito menos.
“Procure um psiquiatra clínico para tratar essa #fobiasocial” respondeu o psicólogo Rubem Pitliuk, um dos mantenedores da clínica. E fobia social, nada mais é que uma timidez mega, ultra, hiper, maxi, avançada, do jeito que explicou o rapaz aí. Ele pode se considerar o mais tímido na escala dos tímidos. Quando o caso vira doença.
Segundo Pitliuk, 90% das pessoas admitem que já foram tímidas alguma vez na vida, outras 45% passam a vida acanhadas, e 4% são como o rapaz acima, cuja timidez é tão acentuada que o atrapalha de levar uma vida normal.
Rubem explica, ainda, que as causas da timidez são múltiplas: convivência em ambientes sociais hostis; experiências de humilhações silenciosas ou públicas; famílias afetivamente frias, entre outras.
Mas o desfecho desse processo pode fazer com que o tímido desenvolva uma forma peculiar de se portar. “É como se todo o tempo alguém tivesse nos olhando, esperando por nossa ação ou reação e isso nos pressiona de modo que não conseguimos ser naturais. Sabe quando você tenta sorrir mas o sorriso não se forma de jeito nenhum?” , conta (por telefone) o estudante Josué Linhares, um tímido, digamos, na escala 2.
Trocando em miúdos, o tímido se acha! Acha que todo mundo tá reparando nele, e por isso finge que é espontâneo. Mas não é! E essa pressão em tentar transmitir algo que não é verdadeiro, faz com que em situações extremas a pessoa fique fóbica. Hora de procurar ajuda.
O tratamento é à base de terapia ou remédios. Na terapia, a pessoa se depara com situações em que tem que se relacionar com as pessoas em situações adversas como no ônibus, no elevador, no trabalho.
Já o tratamento com remédios é indicado para agir não na timidez, mas no sintomas. Pessoas muito tímidas acabam desenvolvendo disfunções no metabolismo de serotonina e dopamina no cérebro. Nesse caso, o remédio serve como tranquilizante.
Mas a timidez também tem suas virtudes. Em 2010, o estadunidense Jim Collins fez uma pesquisa em 1345 empresas para saber por que umas eram mais bem sucedidas que outras. Sabe o que ele descobriu? A maioria das empresas bem-sucedidas tinham ninguém pelo menos um tímido na liderança. Ou seja, uma pessoa centrada no seu trabalho, que passa longe de querer fama e status, que sabe ouvir e fala o necessário. Ou seja, ser tímido tem lá as suas vantagens!
Mas tem uma coisa que falta esclarecer.
Todo mundo, alguma vez na vida, já se sentiu envergonhado e foi denunciado pelas bochechas vermelhas. Numa hora dessas sempre aparece quem diga. “Ele(a) ficou tímido (a)! ” Só que não. Provavelmente você ficou sem graça mesmo. Quando isso ocorre, liberamos um hormônio chamado acetilcolina, que ativa a circulação nos vasos sangüíneos mais finos (do rosto principalmente) o que causa a vermelhidão, ao contrário da adrenalina, que provoca palidez. Então, já sabe! Não confunda bochechas vermelhas com timidez. Pelo contrário, há quem use o ruborzinho no rosto para chamar a atenção !
Situações que mais causam timidez, de acordo com o Mental Help:
- 73% Falar em público
- 62% Falar com a pessoa desejada
- 55% Falar com alguma autoridade
- 55% Qualquer situação nova