Ao longo da existência humana, se tem algo que conseguiu despertar o apreço e a curiosidade de milhões de pessoas são os mitos, lendas e histórias que dizem respeito diretamente à Mitologia Grega, que narra de modo vívido as relações entre deuses, titãs, heróis, centauros, ninfas, entre tantos outros personagens que povoam o imaginário de gerações. Escritores gregos, tais como Hesíodo, autor da obra “Teogonia” do século VIII a.C. e também o historiador Homero, responsável pela escrita da Ilíada e da Odisseia, foram as principais fontes de registro e transmissão destes mitos.

Um dos grandes heróis da Grécia Antiga foi o poeta e médico Orfeu, exímio tocador da lira que recebeu de presente do pai. Integrante da expedição de Jasão e seus Argonautas, conseguiu hipnotizar as sereias homicidas de marinheiros, e os animais selvagens em geral se transformavam em criaturas afáveis ao ouvir os hinos órficos ou músicas tocadas por Orfeu.

Como todo bom personagem grego, Orfeu se apaixonou perdidamente pela linda jovem Eurídice e acabou se casando com ela, mas de tão bela que era a mulher, ela acabou atraindo o desejo doentio de Aristeu, um apicultor local, que impôs uma verdadeira caçada humana por ela não aceitar sua corte. No momento em que Eurídice fugia do seu algoz, acabou tropeçando em uma serpente venenosa, foi picada e morreu.

Enfim, elementos clássicos das inúmeras tragédias gregas.

O herói Orfeu, enlouquecido de pesar, foi até o mundo inferior, ou inferno, com a sua lira, na tentativa de resgatar a amada. A sensibilidade de sua canção pungente conseguiu convencer Caronte, um barqueiro fantasma, que atravessava o rio Estige somente com corpos de pessoas mortas, mas a Orfeu conduziu vivo.

Logo em seguida, o astuto músico fez com que Cérbero, figura mitológica personificada em um cão de 3 cabeças, sentinela dos portões do submundo, adormecesse em um sono profundo.

A melodia hipnótica de Orfeu trouxe uma pausa aos sofrimentos dos que ali estavam condenados no tormento eterno e acalmou os monstros que encontrou pelo caminho; todavia, o ponto culminante estava prestes a acontecer: o encontro de Orfeu com o soberano dos infernos ou o rei dos mortos, o sombrio Hades, que por sinal ficou irado ao ver que um homem vivo havia conseguido entrar em seu reino.

Por outro lado, nem mesmo o taciturno Hades deixou de verter lágrimas de ferro quando ouviu a música de Orfeu. Perséfone, a esposa do deus dos mortos, instou com o marido que ele desse ouvidos à solicitação de Orfeu.

Hades assim o fez, mas sob uma condição, que Orfeu não olhasse para trás ou para Eurídice, até que ambos estivessem debaixo dos raios do sol. Rapidamente Orfeu seguiu pelo caminho perigoso no reino das trevas, mas sempre tocando melodias alegres e de celebração à vida, guiando o espectro de Eurídice à vida novamente. Mas já chegando ao término da jornada, Orfeu olhou rapidamente para trás, querendo ter a certeza de que Eurídice estava junto dele. Foi o que bastou para que Hades tomasse posse, desta vez de modo definitivo, da alma de Eurídice.

Por uma fração de segundos, Orfeu conseguiu ver a esposa, que acabou se transformando em um fantasma fluido, onde habitam os mortos. Orfeu decaiu tornando-se um homem triste e que não amou mais nenhuma mulher, o que lhe custou muito caro, pois de tanto menosprezar o sexo feminino, as mênades (mulheres extremamente selvagens) por vingança, começaram a atirar dardos furiosamente contra ele. A princípio elas não tiveram sucesso, pois não conseguiam romper a proteção da música de Orfeu; porém, os gritos histéricos das mênades abafaram a música hipnótica e o lirista foi assassinado, tendo o corpo despedaçado pelas mulheres. A cabeça de Orfeu, que foi jogada no rio Hebro, ainda cantava "Eurídice, Eurídice!"

As 9 musas gregas conseguiram reunir os restos mortais do herói e o enterraram no famoso monte Olimpo, onde pode, por fim, se unir eternamente à sua sempre amada e linda Eurídice.

Alguns dos 'hinos órficos' ou compostos pelo poeta grego Orfeu