“Nóis, c é loco, véi”, essas são apenas algumas das gírias que vemos por aí, mas esse jeito diferente de falar não faz mais parte apenas da língua de adolescentes e de gente que não tem muito estudo, ao contrário disso, o que vemos por aí são pessoas que possuem conhecimento, que sabem falar corretamente quando querem, mas acabam falando errado propositalmente. Mas por que falamos errado mesmo conhecendo o jeito certo de falar? Especialistas da língua e da psicologia podem explicar essa questão.
De acordo com o professor de linguística, Fabiano Oliveira, não se pode confundir língua e gramática, pois o bom falante não é aquele que reproduz as regras gramaticais, na verdade, o bom falante é aquele que escolhe a variante de acordo com a necessidade.
“Imagine uma roda de amigos e um deles com uma linguagem rebuscada? A gramática, que estudamos em sala de aula para aprendermos nomenclaturas, é apenas uma das diversas variantes de nossa língua. Diga-se de passagem, a menos usada. Não há uma nação que fale exatamente como a gramática impõe. Isso se explica facilmente, porque a fala é natural, é dinâmica, é rápida e não tem a obrigação de reproduzir a escrita”, diz o professor.
Segundo ele, em todas as classes sociais existem gírias e elas não estão somente na fala de pessoas que não estudam, mas sim em todos os lugares. Para o professor, o conceito de “certo” e “errado” também vem mudando. “Erro é usar uma expressão que não comunica nada em uma língua”, ressalta.
A psicóloga, Gislene Isquierdo, diz que uma das causas desse comportamento de falar errado, está relacionada a um grupo de neurônios que nós temos, que são chamados de neurônios espelhos, que têm a função de imitar comportamentos. De acordo com ela, alguns cientistas consideram este tipo de células uma das descobertas mais importantes da neurociência da última década, acreditando que estes possam ser de importância crucial na imitação e aquisição da linguagem.
Isquierdo também sugere outro motivo, que é a necessidade de pertencer a um grupo. “O ser humano é um ser sociável, para ele relacionar-se é uma necessidade básica, assim como o ar e a água, e muitas vezes, inconscientemente, utilizar gírias e modismos, podem gerar mais conexão e relacionamento”, diz.
Ainda, de acordo com a psicóloga, é importante tomar cuidado e analisar a consequência ao se expressar em alguns locais como, por exemplo, nas redes sociais.
“Fazer um post utilizando a palavra "véi", não tem problema, mas se isso se tornar algo frequente, poderá prejudicar a imagem da pessoa, em especial no âmbito profissional”, salienta.
Para o psicólogo, Bayard Galvão, falar errado representa uma questão de orgulho. Segundo ele, algumas expressões como "saudades de tu" são sabidamente erradas, mas carregam a dica de onde a pessoa é, o que gera orgulho ou algum outro tipo de ganho.
Bayard também sugere a lei do menor esforço, que é quando o cérebro fica acostumado a ouvir a fala incorreta, tornando-se natural pensar e falar errado. “Para falar da maneira correta, é necessário pensar um pouco mais antes de falar”, aconselha o psicólogo.