Mais uma seleção de futebol feminino resolveu denunciar abusos sofridos pela federação. Em entrevista à BBC, a capitã da Eslovênia, Dominika Conc, deu detalhes do que acontecia na concentração do time. As atletas da seleção eslovena escreveram uma carta em julho desse ano comunicando constantes assédios da comissão técnica. As denúncias alegavam ainda falta de profissionalismo e culminaram na demissão do treinador Borut Jarc, que ficou no comando da equipe por cinco anos e oito meses.
'A comissão técnica não era profissional', denunciou a capitã da Eslovênia
Para a BBC, Conc disse que eram disparados ofensas sexistas, homofóbicas e comentários inapropriados sobre a vida pessoal e o peso corporal das atletas. Nas Eliminatórias para a Eurocopa de 2022, as jogadoras foram obrigadas a jogar mesmo com um surto de Covid-19 na seleção nacional. “O ambiente era muito pouco profissional, tudo era muito inapropriado. Insultos contra nós, comentários sexistas e tratamento homofóbico sobre a nossa vida pessoal que nada tem a ver com Futebol. As coisas estavam acontecendo nos últimos cinco anos. Antes tínhamos uma relação de respeito e, por medo, não falávamos nada. Muitas jogadoras tiveram que pedir ajuda externa, de psicólogos e outros profissionais”, afirmou.
A jogadora do Levante Las Planas afirmou que o futebol feminino na Eslovênia é excluído e que a falta de comunicação levou às denúncias em conjunto. “Não houve interesse na seleção feminina. Eles não queriam nos ouvir e o que acontecia não era da nossa conta. Foi nesse momento que vimos que ninguém nos ouvia. Então tivemos que fazer algo diferente e decidimos anotar as coisas e enviá-las novamente para a federação e tentamos nos comunicar com eles novamente em particular, e o que eles fizeram foi nunca nos responder”, completou.
Denúncias sobre assédio na seleção da Eslovênia chegaram no presidente da Uefa
Em 2016, Dominika Conc conversou Aleksander Ceferin, presidente da Uefa e esloveno, mas apesar de o mandatário ser favorável ao futebol feminino, Conc não encontrou abertura para resolver os problemas internos na seleção eslovena. "Ele é muito a favor do futebol feminino, mas no seu próprio país não resolveu os problemas", disse.
O ex-treinador Borut Jarc não teria sido o único a cometer assédio com as jogadoras da seleção nacional da Eslovênia. Também foram citados na carta o preparador de goleiros, Danilo Sergas, e o auxiliar técnico, Milomir Kondic.
Sergas teria enviado mensagens inapropriadas para as jogadoras nas redes sociais, e Kondic, comentários depreciativos sobre os clubes eslovenos e a liga nacional.
Borut Jarc entrega carta à federação comunicando desligamento da seleção
“Justifico a proposta apenas por motivos pessoais. Após cuidadosa reflexão, cheguei à conclusão de que nestas circunstâncias já não conseguiria continuar com sucesso o meu trabalho como treinador. Foi uma decisão difícil, porque sempre atuei com espírito profissional e num momento de fé no sucesso da seleção feminina de futebol da Eslovênia.
Gostaria de destacar que ao longo do meu comando agi de acordo com os melhores conhecimentos e crenças, e com o objetivo de liderar corretamente a seleção nacional, com o objetivo de alcançar os melhores resultados possíveis. Também quero negar categoricamente todas as acusações que me prejudicaram pessoalmente. Quero destacar que sempre agi de forma moral e de acordo com os princípios éticos”, escreveu Jarc.