Trabalhadores são enviados ao exterior pelo governo da Coreia do Norte para trabalhar cerca 20 horas por dia sem comida suficiente e sob constante vigilância, de acordo com um novo relatório de Marzuki Darusman, o relator especial da ONU sobre os Direitos Humanos na Coreia do Norte.
Ele disse a uma Conferência de Imprensa sobre Direitos Humanos na ONU, no último sábado (28) que a prática tornou-se mais visível nos últimos anos e que "os números têm crescido".
Uma lista de abusos contra seu próprio povo dentro das fronteiras rigidamente controladas da Coreia do Norte tem sido amplamente divulgada. Mas acredita-se que o regime de Kim Jong Un também embolsou enormes somas dos salários de dezenas de milhares de seus cidadãos que são enviados ao exterior para trabalhar em condições de trabalho forçado, segundo o relator da ONU.
"Eu acho que isso reflete a situação econômica e financeira muito apertada na Coreia do Norte", disse Darusman. A esmagadora maioria dos trabalhadores são empregados em países aliados norte-coreanos como a China e a Rússia, de acordo com o relatório. Mas o restante deles estão espalhados por uma série de países da Ásia, Oriente Médio e África.
A imprensa norte americana informou sobre essa prática em maio desse ano, com destaque para o caso de um homem norte-coreano que trabalhou em um canteiro de obras no Kuwait durante cinco meses sem receber qualquer remuneração. Ele finalmente conseguiu escapar de seus vigilantes e tomar asilo na embaixada sul-coreana.
Sua história fez coro com a de outros trabalhadores fugitivos que disseram que eram submetidos a longas horas de trabalho, pouca ou nenhuma remuneração, e que não há liberdade e têm duras condições de vida.
Aqueles que são pagos recebem entre 120 e 150 dólares por mês, mas seus empregadores "pagam valores significativamente mais elevados para o governo norte-coreano", segundo o relatório da ONU.
O Regime de Kim parece estar orquestrando um sistema "para contornar as sanções da ONU impostas ao país, com objetivo de arrecadar fundos", explicou Darusman, citando um relatório de 2012 de um grupo de direitos humanos que estimou que a Coreia do Norte arrecadou entre 1,2 e 2,3 bilhões de dólares em um ano a partir do início do esquema.
Grande parte do dinheiro é gerado pelos trabalhadores e acredita-se ser desviado para o programa militar e nuclear do regime, bem como ao seu círculo interior de elite. “Os governos dos países de acolhimento parecem estar fazendo vista grossa para os abusos dos direitos trabalhistas dos trabalhadores norte-coreanos”, disse Darusman.
Ele alertou que empresas que contratam os trabalhadores se tornam cúmplices de um sistema inaceitável de trabalho forçado. "Os trabalhadores devem relatar quaisquer abusos às autoridades locais, que têm a obrigação de investigar a fundo, e pôr regras a essa parceria", disse Darusman.
Ele estimou o número de norte-coreanos que trabalham no exterior podem estar acima de 50 mil, atribuindo o número para um estudo de 2014 elaborado pelo Instituto de Estudos Políticos Asan. Um funcionário do governo sul-coreano disse à imprensa norte americana no início deste ano que o total estimado em 2015 é em torno de 100 mil pessoas.
As principais indústrias que empregam eles são de mineração, exploração madeireira, têxtil e de construção.
Darusman disse que a situação geral dos direitos humanos na Coreia do Norte continua a ser "terrível", acrescentando que o governo de Kim Jong Un tinha recusado ou ignorado seus repetidos pedidos para recebê-lo.